
Em um mês de maio de início atípico, quando o mundo inteiro parece voltar os olhares a um pequeno ponto do mapa, em que os dias se assemelham aos campos de guerras e soldados resgatam cavalos abatidos em batalha da morte certa, ainda é Dia das Mães. O mês de maio, famoso por seus laços – e por que não votos? – que ruminam o eterno, afinal, além de mês das noivas, também é o mês das mães.
Com a chegada de épocas especiais, que mesmo entre as dores do mundo, proporcionam momentos de pausa para agradecimento àquilo que se tem de mais precioso – a vida. São em olhos maternos que, muitas vezes, enxergamos a segurança e a força para mantermos os pés firmes na realidade por mais um dia. E em campos de batalha, vale lembrar, que além de abrigo, mães também marcam trincheiras profundas em raízes e estão sempre prontas para defesa das vidas que geram.
Quando em busca de histórias, dificilmente encontra-se uma ausente de dor. E embora existam aqueles que votem na certeza de já se nascer com ela, há protagonistas da vida que dançam por seu caminho, colhendo flores em acostamentos e pensando não na chuva sobre si, mas no céu limpo que a precede.
No interior de Pelotas, mais especificamente na localidade da Colônia Maciel, Eliane Botelho Telles é uma dessas pessoas. Aos 46 anos, a mulher é mãe de quatro filhos: Jaíne, Italo, Juliana e João Gabriel. E carregando não apenas a dimensão das quatros histórias que gerou, tem a sua própria contada com admiração através dos filhos.
“A minha mãe é uma mulher que já sofreu violência obstétrica, que já teve um câncer e teve um acidente neste período. E mesmo com tudo isso, ela é a pessoa mais positiva que eu conheço na minha vida. Ela passa tudo pensando que amanhã vai ser melhor”, relata Juliana Quevedo, de 24 anos.
A jovem era a caçula da família até o nascimento de João Gabriel, hoje com cinco anos. Ela relembra que em 2011, aos 11 anos de idade, quando a família residia em Canguçu, a mãe sofreu com um câncer na região do útero, uma doença que na época não era conhecida ou tratada no município. Por isso, foi preciso que Eliane realizasse o tratamento para a enfermidade em Porto Alegre.
“Eu vou lutar, eu vou fazer todo o tratamento e vou voltar pra casa”, a frase é o que marcou a jovem, que se manteve ao lado da mãe como uma grande admiradora da força apresentada por ela. Juliana destaca ainda a incrível capacidade que Eliane possui de ir em direção ao desconhecido de olhos fechados.
“Ali, com 11 anos de idade, eu vi que era a mulher que eu queria ser. Era a minha mãe que eu queria ser, era o sinônimo de força, garra, determinação e humildade. Minha mãe é uma mulher muito batalhadora”, expressa.
Personificando cada palavra de garra e superação que foi descrita pela filha, Eliane é produtora de queijos artesanais e trabalha desde muito cedo, tendo casado aos 14 anos e sido mãe pela primeira vez aos 16, sem qualquer suporte familiar além do marido, João Adão Cardoso Quevedo. Juliana relembra que apesar da infância humilde, hoje ela e todos os irmãos colhem os frutos dos esforços da mãe para garantir que o melhor sempre chegasse até eles.
“Ela trabalhou na lavoura, trabalhou em limpeza, trabalhou como babá… E mesmo como uma família humilde, ela sempre lutou para ir atrás do melhor para nós”, declara a jovem, hoje gerente de loja.
Outro momento da vida da família que Juliana conta como um marco na relação entre mãe e filhos foi durante o nascimento do irmão João Gabriel, que aconteceu após todo o tratamento de câncer no útero. “Foi quando eu vi quem era a mãe que eu quero ser para o meu filho”, relata.
Na época com 20 anos, Juliana conta que não hesitou em deixar a própria vida para trás para cuidar da mãe e do irmão recém-nascido, tendo ficado durante três meses ao lado de Eliane. “Ali, a gente se conectou muito mais. Além do contato diário, que a gente não costuma ter, foi o primeiro contato direto que eu tive com um bebê. Então, ver o cuidado, noites sem dormir, o vínculo, acabou que a gente criou um laço muito grande nós dois, e eu com a minha mãe”, declara.
A filha narra ainda que Eliane, além de ter passado por inúmeras complicações durante o parto, também enfrentou o pior tipo de puerpério pelo qual mulheres poderiam passar, seguido da depressão pós-parto. Mas o momento, apesar de doloroso, aproximou a mãe ainda mais dos filhos, que não deixaram de ficar ao seu lado.
“Ela é uma das pessoas mais incríveis que eu conheço. Pode parecer bobagem, podem dizer que todo mundo fala isso, porém eu sei que eu posso falar. Não só por mim que sou filha, mas as pessoas ao redor falam que é a mãe mais incrível e que queriam ter uma mãe como a minha”, diz Juliana.
A jovem relembrou também a infância humilde, em que os fins de semana eram sempre os melhores, regados pelo sabor de bolinhos fritos com geleia – ambos feitos por Eliane, além de bolos de torresmo que se tornaram tradição entre os filhos, que ao visitarem a mãe hoje, mesmo adultos, sempre fazem o pedido, saboreando um pouco da infância e do descanso que só é entregue a um filho, quando se está de volta ao primeiro lar.
Em momentos de admiração à mulher que lhe deu a vida, a jovem ressalta a adaptabilidade como mais um ponto de justificativa ao que sente em relação à mãe, uma vez que Eliane, após enfrentar a vida escolar dos três filhos mais velhos, agora, após 20 anos, retorna a essa difícil missão, com o pequeno João Gabriel. Desta vez, no entanto, contando com a ajuda dos filhos mais velhos, que buscam estar presentes em cada primeiro passo dado pelo caçula.
“A minha mãe é uma pessoa que sempre fica do lado dos filhos, por menor que seja a conquista que a gente queira, ela tá sempre do lado, todos os dias motivando, ligando, perguntando, querendo saber”, lembra com carinho, acrescentando o forte incentivo e influência de Eliane em sua vida e na dos irmãos, quando em momentos de exaustão, o cansaço pela perseguição dos sonhos faz com que os filhos queiram desistir, e as mensagens dela chegam como afagos transmitidos através do celular, sempre como um toque de mágica, sempre com um sentido extra de mãe.