Bauernkreis e a cultura pomerana: do amor de infância aos palcos do mundo

Os integrantes do Bauernkreis também se apresentaram na Oktoberfest de Santa Cruz do Sul, um dos eventos mais tradicionais do estado e do país. (Foto: Divulgação/ Bauernkreis)

No próximo dia 7 de julho, o Grupo de Danças Folclóricas Bauernkreis comemora seu primeiro ano de existência. A iniciativa de criação do grupo aconteceu durante conversas informais com amigos que sentiram a necessidade de perpetuar apresentações ligadas à cultura alemã e pomerana. Isso porque, depois de adultos, o contato com a temática acabava ficando nas lembranças de infância da escola.

“Falávamos da importância e da necessidade que a gente tinha de Canguçu ter um grupo com idades além das fases estudantis […] a partir do momento em que saímos da escola, não tem um direcionamento nesse sentido. Diferentemente dos alunos que dançam na Siena (cultura gaúcha), depois do ensino médio, eles podem ir para dentro de um CTG, onde segue a tradição nativista. Nesse embalo, que surge a ideia de criar um grupo de danças em Canguçu”, destaca o presidente do grupo Giales Raí, que também atua enquanto coordenador das categorias Juvenil e Adulta do grupo.

A iniciativa precisava de mais gente e os primeiros componentes do grupo decidiram fazer um chamamento nas redes sociais. O grupo foi crescendo, começou o primeiro ensaio com 20 pessoas e chegou a ter 34 integrantes naquele primeiro momento.

Primeira apresentação

“O grupo era bastante grande, bem diverso com várias regiões do município, […] pessoas que vinham de todos os lados e se juntavam na cidade para a realização dos ensaios”, conta Raí. Naquele primeiro momento, o objetivo era se apresentar na Südoktoberfest, em São Lourenço do Sul, considerada a maior festa germânica da região sul. “Começamos a nos organizar e se preparar para aquela data que seria oficialmente a nossa estreia”, recorda.

E, com a possibilidade de estreia, os primeiros desafios foram surgindo. O custo das vestimentas era bastante alto e para que a aquisição das peças fosse possível, foi realizado um evento para arrecadar fundos. “Um mês depois da criação do grupo, fizemos nosso primeiro evento, um mocotó que foi um sucesso absoluto. Tivemos 700 pratos vendidos. Foi bem bacana, o pessoal abraçou a ideia, entendeu o que a gente tava querendo e a importância daquele evento”, relembra.

Apesar dos aspectos positivos, o valor arrecadado ainda não era suficiente para custear todas as despesas. “A gente tem, enquanto indumentária, um traje histórico da cultura germânica. Ele possui um custo muito alto, são peças diferenciadas. Principalmente as meias, que vêm de outro lugar”. Mesmo com as dificuldades, a estreia foi realizada ao som de muitos aplausos em 8 de outubro, quando o grupo fez sua primeira apresentação, em São Lourenço do Sul.

Pensando em custear o restante das despesas, os integrantes organizaram o segundo evento, um baile do chopp que movimentou a cidade em 5 de novembro. “Foi um verdadeiro sucesso! Tivemos mais de mil ingressos vendidos e quase dois mil litros de chopp consumidos”, comemora. Com essa arrecadação, foram finalizados os pagamentos pendentes, dando continuidade às apresentações.

O sucesso do evento foi tanto que a segunda edição deverá ser realizada no sábado (1º) no Ginásio Municipal, juntamente com as comemorações do aniversário do município.

Apresentações

Parte importante da rotina do grupo, as coreografias apresentadas não são criadas pelo Bauernkreis, na verdade, são repassadas pela Associação Cultural Gramado, um dos maiores centros de preservação da cultura alemã no Brasil e, também, entidade a qual o grupo é vinculado. “É bem interessante que todo o material que temos é bastante original e muito autêntico. Vem direto da Alemanha, um dos hábitos e costumes do nosso povo que acontece através da dança. Elas falam sobre o cultivo da terra, dos astros lunares, sobre costumes (típicos) e etc.”, cita Raí.

Importância do grupo para Canguçu

Além da manutenção da cultura, o Bauernkreis é uma forma de preservar a memória dos antepassados. “O grupo ajuda a contar a história daqueles que, há tanto tempo, tanto fizeram para que a gente seja quem somos hoje”, ressalta o presidente. Em 28 de fevereiro, o grupo retornou de férias já com novas categorias: a juvenil, de 14 a 17 anos, e a adulta, de 18 a 35 anos. De forma muito organizada, passou a se manter unido.

Nome e símbolo do grupo retratam o amor pela terra natal, considerada a Capital Nacional da Agricultura Familiar, e a união, apontada pelo círculo. (Foto: Divulgação/ Bauernkreis)

“[Temos] diretoria, conselho fiscal, departamento de trajes, departamento de ensaios, departamento de eventos, departamento de viagens, departamento de marketing. Todos os integrantes do grupo participam de certa forma da organização e tudo que acontece com o grupo tem o engajamento e o envolvimento de todos para que as coisas funcionem”, pontua.

E essa união está presente também no nome. Bauern significa agricultores em alemão, devido ao fato de Canguçu ser considerada a capital nacional da Agricultura Familiar por conta das mais de 14 mil pequenas propriedades rurais. Kreis é circulo que, como um anel, não possui fim. Além disso, o círculo está presente nas coreografias, simbolizando o companheirismo.

Desde março deste ano, já são mais de 10 apresentações, representando Canguçu em diversos municípios, como Santa Cruz do Sul, Pelotas, Morro Redondo, São Lourenço do Sul e Arroio do Padre. Os convites chegam através do e-mail ou redes sociais e o grupo não cobra cachê, somente solicita auxílio no deslocamento. “Cada ensaio que a gente tem é muito especial, porque é um momento de falar sobre a dança, sobre o histórico e aprendizado por trás de tudo isso. Os integrantes vivem numa completa imersão cultural, entendendo o que eles estão dançando e porque eles estão dançando”.

Mas além de todo o trabalho para organização, a atuação de Raí em prol do grupo também é motivo de satisfação. “É uma coisa que nos proporciona muitos momentos felizes. Entre eles, gosto muito de destacar nossa apresentação na Fenadoce. Era um sonho de muitos integrantes. Desde pequeno, gostaria muito de me apresentar no palco da Fenadoce e, neste ano, nós tivemos a realização desse sonho”, destaca.

Futuro do grupo

Para o futuro, os planos são de criação de novas categorias, como a livre que contempla idade superiores a 35 anos, e a infantil, para começar a trabalhar com as crianças. “Eu sempre digo que é importante os adultos saberem e manterem a tradição. Mas, melhor ainda é trabalhar isso nas crianças, fazer com que entendam a importância da dança folclórica e de manter vivos os hábitos e costumes do nosso povo”, ressalta.

O presidente conta que, anualmente, o grupo abre inscrições para ingresso de novos membros. “Várias pessoas já estão dizendo que querem entrar e assim que abrirem as inscrições irão participar”, afirma.

Mesmo com os projetos em mente, ele conta que nada é estático no Bauernkreis. “O grupo está sempre em constante transformação. Cada dia, cada evento, cada ensaio é um aprendizado que nos molda”, finaliza.

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