8Diante da constante crise de mercado que afeta o setor orizícola – que é uma das principais fontes de economia de Arroio Grande -, são buscadas alternativas viáveis que remunerem os produtores e que de alguma forma diversifiquem a dependência econômica. Nesse sentido, a ovinocultura tem sido explorada, principalmente no que diz respeito às características de produção local e a qualidade do que é ofertado atualmente.
O primeiro questionamento a ser ponderado é se efetivamente há mercado. De maneira geral, o brasileiro não costuma consumir frequentemente carne de ovelha. Em um levantamento realizado pela Embrapa no final de 2018, foi apontado que 12% dos consumidores no Brasil nunca sequer experimentaram a proteína oriunda de ovelhas, carneiros ou cordeiros, isso em números representa um público de 25 milhões brasileiros.
As características de consumo da carne ovina na região estão muito presentes nos churrascos de finais de semana ou ocasiões especiais. A pouca oferta para o produto é atribuída pela falta de cortes adequados, o que diminui a disponibilidade no mercado, afetando diretamente os índices de consumo, problema considerado como a principal barreira comercial.
Historicamente, o Rio Grande do Sul possui tradição na criação de ovinos e em Arroio Grande busca-se o fomento para aumentar os níveis de produção da atividade que já foi mais explorada em tempos anteriores. Hoje a produção de cordeiros no município é vendida para outros estados, e os dados apontados pela pesquisa da Embrapa encaixam-se nesta realidade, já que a carne disponibilizada no mercado local atualmente não possui um padrão de corte fracionado dificultando a comercialização.
Os cortes da carcaça de ovinos são classificados como de primeira (perna e lombo), segunda (paleta e costelas) e de terceira (costela descoberta e pescoço). É essencial para expandir a produção e o consumo inovar e aplicar novas tecnologias, fornecendo ao consumidor carcaças de qualidade e uma variedade de cortes, situações que são possíveis através da ovinocultura. Os derivados da ovelha também se mostram como uma alternativa rentável, pois além da carne, a utilização da lã, leite e peles representam um alto valor agregado aos produtores.
Do lado de fora da propriedade, políticas públicas direcionadas ao pecuarista familiar também são consideradas importantes justamente pela sustentabilidade produtiva regional. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Arroio Grande está defendendo constantemente a ampliação da ovinocultura, no qual dois seminários sobre pecuária familiar já reuniram produtores para tratar de ações técnicas sobre a produtividade local.
Além disso, já foi promovido através do Sindicato Rural e Associação dos Ovinos a Expo Outono Meia Lã, onde o evento reuniu exposição de animais e palestras técnicas envolvendo produtores da região, eventos que comprovam a força do setor e como as entidades organizadas podem alavancar a área, que de acordo com dados da Inspetoria Veterinária de Arroio Grande possui atualmente 27.212 mil cabeças de ovinos cadastradas no órgão, possuindo a região de Pelotas 593.287 mil.
Outro fator que pode potencializar a ovinocultura é que Arroio Grande possui uma planta frigorífica com capacidade de abater ovinos e bovinos. O Frigorífico Sallaberry atua na região a mais de 45 anos no ramo, possuindo uma agroindústria que produz linguiça artesanal e que tem ampliado seu mercado.

O frigorífico possui o selo de Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), que é o órgão da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul responsável pela inspeção de produtos de origem animal do estado, atuando em estabelecimentos de abate de bovinos, bubalinos, ovinos, suínos, javalis, aves, pescado e coelhos. Seus fiscais também trabalham junto às casas do mel, entrepostos de carnes, pescado, laticínios, ovos e na industrialização de seus derivados.
O administrador do frigorífico, Vitor Sallaberry, ressalta que a empresa possui toda estrutura e as autorizações devidas para prestar o serviço de abate dos ovinos, no entanto, atualmente a alternativa torna-se inviável, muito por conta do abate clandestino e o custo que muitas vezes não compensa.
Sallaberry enxerga com bons olhos o crescimento da ovinocultura no município. “Com o crescimento do setor, logicamente aumentará o número de abates, gerando por consequência uma demanda maior de serviço e empregos, refletindo na arrecadação de impostos para o município”, destaca.

Outra opção para o fomento da produção defendida pelo sindicato é incorporar a carne ovina na merenda escolar, agregando um diferencial no cardápio e dando novos ares a ovinocultura local.
O presidente do sindicato, João Cezar Larrosa, afirma que a ideia pode ser ampliada para outras instituições com a possibilidade de absorver o que for produzido. Para isso cita hospitais, presídios e quartéis, sendo visto como mercados com grande potencial.
“A gente tem discutido o assunto com nutricionistas ligadas à rede de ensino, analisando a possibilidade de inserir na merenda escolar uma carne nossa, produzida em no município. Nossa preocupação é que essa carne chegue devidamente processada, fracionada, facilitando assim seu preparo, onde o avanço nesse processo não significa só valorizar o produto local, mas também reafirmar a identidade produtiva de uma microrregião muito ligada à ovinocultura”, defende Larrosa.
Benefícios da carne de ovelha
De acordo com informações da nutricionista Camila Nogueira, o consumo de carne ovina pode trazer inúmeros benefícios à saúde, já que como as demais carnes vermelhas ela possui proteína, ferro, vitamina B12 e cálcio. Esses nutrientes podem auxiliar na recuperação muscular, dar saciedade, combater anemia e fadiga.
Camila atenta para o fato de que o consumo de proteína é importante para a manutenção de ossos, cabelo, pele, dentes e músculos. Em relação ao tipo de carne ovina de melhor valor nutricional, a profissional destaca a carne de cordeiro, por possuir menor quantidade de gorduras que a carne de ovinos adultos.