Especial JTR: O protagonismo da mulher no campo em Arroio Grande

Elvira Harback foi uma das responsáveis pela criação do grupo de agricultores rurais que organiza a Feira da Agricultura Familiar no município (Foto: Milka Camargo)

Não se pode negar a importância e o protagonismo da mulher na atividade rural. Em diversos casos essas trabalhadoras dividem as tarefas domésticas com as atividades de cultivo e manutenção das propriedades, como no caso da agricultora familiar Elvira Harback, de 57 anos.
Natural de Tapera (RS), ela faz parte do grupo de agricultores familiares do assentamento Novo Arroio Grande – localizado a 15 quilômetros do município -, que conta com famílias que estão desde o início do processo de instalação da comunidade e tem como atividade base o desenvolvimento da agricultura familiar com forte atuação das mulheres.
A agricultora relembra as dificuldades no decorrer da instalação dos assentados, pois além dos problemas estruturais, as famílias sentiram na pele o preconceito na chegada a Arroio Grande. Segundo ela, a população recriminava os assentados por não conhecer a história do movimento e o real objetivo dos agricultores irem à cidade.
Na época, as famílias foram sorteadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para assumirem 25 hectares e tornarem as propriedades produtivas, porém não havia estrutura e tiveram que morar em barracos construídos com lona. “Passamos fome e sofremos com a falta de agasalhos, no entanto, muitas pessoas da comunidade nos ajudaram e prestaram auxílio. Dentre tantas, cito a ajuda do padre Olavo Gasperin”, diz.
Em sua terra natal, os familiares de Elvira eram empregados em fazendas. A ida para Arroio Grande aconteceu pela instabilidade nas ofertas de serviço naquele período, em que quase todos os anos tinham que trocar de emprego. Vencidos os problemas, devagar o trabalho foi tomando forma e os agricultores familiares, através de ajuda mútua, começaram a produzir e se estabelecer no assentamento, incentivados pelos projetos do Incra.
Após enfrentar um processo de separação familiar, Elvira encara o desafio de tocar a propriedade, na companhia do filho mais novo, cultivando para sustento próprio. Todos os dias, acorda às 6 horas da manhã e, ouvindo o rádio, começa as atividades domésticas. Depois, se dedica à propriedade e às atividades no campo. Mesmo diante das dificuldades e da falta de incentivo para os agricultores familiares, considera que hoje as condições de sobrevivência são bem melhores.
Ela já desenvolveu atividade leiteira e foi uma das responsáveis pela criação do grupo de agricultores familiares que organiza a Feira da Agricultura Familiar em Arroio Grande. “Começamos o grupo após o meu processo de separação e de um problema de saúde com um dos meus filhos. Nessa época começamos com cinco produtores motivados pela ex-diretora da escola do assentamento, professora Gisiane Añaña, que hoje é madrinha do grupo”, conta.
A agricultora considera que as mulheres ainda são discriminadas no meio rural, porém, aos poucos estão conquistando seus espaços. Não desfazendo dos homens, a agricultora destaca que consegue manter a propriedade sozinha, fazendo todas as atividades.
Com um sorriso cativante estampado no rosto, Elvira é o exemplo de mulher lutadora e guerreira, que apesar dos obstáculos, tem como base a sua fé para seguir em frente, demonstrando o verdadeiro protagonismo feminino na atividade rural.

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