Seis décadas de produção de tabaco em Arroio do Padre

Ilgo Beiersdorf e a esposa Irlei plantaram 2,5 hectares de tabaco na última safra, em propriedade localizada na rua dos Pomares. (Foto: Adilson Cruz/JTR)

Talvez não haja produtor com mais experiência na cultura do fumo em Arroio do Padre que Ilgo Beiersdorf. Dos 69 anos de vida, nada menos que 60 são dedicados ao cultivo do tabaco, sempre para a mesma fumageira, a BAT Brasil (antiga Souza Cruz). Não se arrepende. “Nunca deu prejuízo”, justifica.

“Com o fumo conquistei um padrão de vida confortável e formei meus filhos [Felipe e Elisa, ambos em Ciências Contábeis, em universidades particulares em Pelotas]”, afirma. Experiência na produção de tabaco em Arroio do Padre não é pouca coisa. É a principal cultura produzida no município, que se emancipou de Pelotas na última década do século 20. Dados do escritório da Emater/RS-Ascar apontam que na última safra as lavouras, somadas, chegaram a 1,2 mil hectares, espalhadas em 270 estabelecimentos, a uma produtividade média de 2,5 mil quilos por hectare.

Ao todo, em Arroio do Padre a produção alcançou 1,2 mil hectares, espalhadas em
270 estabelecimentos, com produtividade média de 2,5 mil quilos por hectare. (Foto: Adilson Cruz/JTR)

Beiersdorf e a esposa Irlei colaboraram mais uma vez com a estatística. Na propriedade localizada na rua dos Pomares, região considerada urbana, plantaram 2,5 hectares – uma parte na área de 18 hectares onde fica a residência da família e outra nas proximidades, em uma fração de terra separada. Para a próxima safra repetiram a área plantada. A exemplo da anterior, pretendem colher os mesmos 10 mil quilos já negociados com a fumageira. Uma produção que não pretende ampliar. “Está bom assim, já cheguei a plantar cinco hectares, mas a idade está chegando e embora eu não sinta dor, não sinta nada, é preciso diminuir o ritmo”, diz o produtor.

Para a próxima safra, o casal começou a plantação em setembro, no feriado do dia 20, assim que as chuvas deram uma trégua. Terminou em 1º de outubro. Espera dar início à colheita a partir de dezembro, atividade que deve se estender até o fim de fevereiro. Período em que conta com um casal de amigos para ajudar na tarefa. “É troca de serviços, um ajuda o outro, é muito comum na colônia”, explica.

Em um banner, produtor demonstra estágios da pesquisa da produção de tabaco
na propriedade realizada em parceria com a antiga Souza Cruz (BAT). (Foto: Adilson Cruz/JTR)

Além da rentabilidade oferecida pela lavoura de tabaco, o que também garantiu aos Beiersdorf dotar a propriedade de melhorias como maquinários, implementos e duas estufas modernas, o produtor reconhece a parceria com a companhia fumageira – selada ainda pelo pai, Albino, já falecido.

Ostenta, com orgulho, diplomas e outras honrarias oferecidas pela empresa à família de produtores, como forma de reconhecimento pela longa relação, que incluiu durante nove anos na propriedade pesquisas de variedades desenvolvidas pela BAT e técnicas de irrigação. Mas não apenas. Nessas seis décadas, além da assistência técnica gratuita, todos os insumos, como adubo e sementes, foram garantidos ao produtor. “Estou muito satisfeito [com o serviço oferecido], tanto que nunca troquei”, diz.

O equipamento de proteção individual (EPI), necessário no manejo, também é fornecido anualmente pela BAT Brasil. Trata-se do EPI e o que o produtor chama de “vestimenta” exigida pela empresa no momento da colheita. “Tem que usar”, reforça Ilgo.

Lucros obtidos com a produção e venda do tabaco contribuem para o sustento da família e possibilitam a realização de investimentos, como a compra de modernas estufas. (Foto: Adilson Cruz/JTR)

Quanto ao uso de defensivos na lavoura de fumo, o produtor sustenta que muito do que é dito a respeito “é mito”. “Não tenho problema nenhum, não sinto nada, não tomo remédio para nada, e hoje em dia se usa cada vez menos”, argumenta. Segundo ele, alguns hortifrutigranjeiros exigem muito mais “veneno” que o fumo. Esta, aliás, é outra razão para se manter na produção de tabaco – além do milho que também produz em escala comercial.

O restante da produção na propriedade é para consumo familiar. Na horta que mantém com a esposa planta batata doce, feijão, aipim e cebola. Cria galinhas e gado geral para abate e leite. Leitaria, aliás, foi uma de suas atividades durante 20 anos. Parou por dois motivos: pelo preço pago ao produtor (“sempre foi baixo, mas hoje está uma vergonha”, reclama) e pela qualidade de vida: “Virei empregado das vacas”, afirma.

Rentabilidade
Pesquisa recente encomendada pelo Sindicato Interestadual da Indústria de Tabaco (Sinditabaco) ao Centro de Estudos e Pesquisas em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEPA/UFRGS) apontam para uma boa condição socioeconômica dos produtores de tabaco da região Sul do Brasil. O estudo ouviu 1.145 produtores de 37 municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná entre 30 de junho a 20 de julho de 2023.

“Verifica-se um bom acesso a itens de conforto doméstico, bem como a itens relacionados às condições de higiene e saúde, facilitadas por um bom nível de renda familiar e per capita, as quais se mostram bem superiores às médias nacionais, bem como por um bom acesso à informação e à atualização. Constata-se ainda na pesquisa que os produtores apresentam um elevado grau de satisfação com a sua condição de agricultor e, em especial, por ser produtor de tabaco. Esta constatação é ratificada pela boa autoavaliação que eles fazem da sua condição de vida”, afirma o professor Luiz Antonio Slongo, coordenador do projeto. A coleta de dados foi feita com base em entrevistas pessoais, realizadas na residência dos produtores.

Em relação à renda, a pesquisa demonstrou que o público ouvido atinge uma renda mensal total média de R$ 11.755,30; em valor per capta, o montante chega a R$ 3.935,40, mais que o dobro da média nacional, que conforme o censo 2022 do IBGE é de R$ 1.625.
Na Zona Sul do estado foram ouvidos produtores de Canguçu e de São Lourenço do Sul.

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