Por trás do alimento que chega à nossa mesa todos os dias existem muitas histórias, boas e ruins, de homens e mulheres, de sacrifícios e superação, de sobrevivência e amor à terra. Foi a partir disso que foi construído o município de Arroio do Padre, que é formado por pelo menos 430 pequenas propriedades familiares, conforme dados da Emater/RS-Ascar.
De colonização pomerana, a cidade tem sua economia dominada pelo setor primário. Nas pequenas propriedades rurais, cada uma com em torno de 20 hectares, a mão de obra é familiar, onde se destacam as plantações de tabaco, soja, feijão, milho, verduras, frutas e hortaliças. Além disso, há a apicultura, avicultura colonial, piscicultura, com destaque para a pecuária leiteira.

Uma destas histórias se desenrola na localidade denominada Colônia Sítio, onde vive há sete anos a família Loeck Radtke, composta pelo produtor Ilmar Radtke, de 46 anos, a produtora Maria Elena Loeck Radtke, 35, os filhos Eduardo, 16 e Vinícios, 8, além da avó materna Aida, 69.
Casados há 18 anos, o casal se mudou para a propriedade após o falecimento do pai da produtora, Elmiro Loeck. Antes, eles viviam em outra propriedade, da família de Radtke, na Colônia Palmeira, voltada à cultura do fumo e à atividade leiteira. Por conta de um problema de saúde, o produtor resolveu apostar no leite, uma paixão do casal, e mesmo com os altos e baixos, ainda é a principal atividade na propriedade.
Hoje a produção gira em torno de 180 a 190 litros diários, com 11 vacas em lactação. Mas já foi superior a 500 litros, e caiu devido à crise do setor e da principal cooperativa da região, o que levou Radtke a vender animais para pagar as contas.
Bem organizada, toda a atividade na pequena propriedade é ligada à leitaria. No campo, além do campo nativo, dez hectares são destinados ao cultivo de milho para silagem e pastagens, de aveia no inverno e de milheto no verão. “Mas nosso carro-chefe são as pastagens perenes de jiggs e capim aruana”, diz o produtor.
Segundo ele, desde que se mudaram para o local, este tem sido o inverno mais rigoroso que já enfrentaram, com registro de temperaturas negativas e intensas geadas. No verão, no entanto, o local é mais agradável e bem arejado. Ele destaca, ainda, a boa disponibilidade de água, com dois córregos de nascentes naturais e pelo menos três açudes.
Seu lema é “Bem estar animal”: “Primeiro vem a qualidade de vida do animal, as vacas têm que estar confortáveis”, afirma. As duas ordenhas do dia obedecem um intervalo de 12 horas, uma pela manhã e a outra à tardinha. Criados a pasto, os animais passam o dia nos campos e ao final da tarde, quando chega a hora da ordenha, se dirigem por conta própria até o galpão.
Outras criações como galinhas, perus, coelhos e, mais recentemente, ovelhas, servem ao consumo da família e também para fazer um caixa extra, como por exemplo, na época de Natal, quando os perus são vendidos vivos.
Mas o que se tornou um grande diferencial e que vêm garantindo uma boa receita à família são os queijos e produtos de panificação feitos semanalmente por Maria Elena com a ajuda do marido. A renda tem ajudado nas despesas da casa, compra de óleo diesel e pagamento do veterinário, por exemplo. “Nós chamamos de troquinho de bolso”, diz a produtora.
Toda sexta-feira é dedicada à produção de pães, cucas, bolos, tortas, doces e salgados, feitos sob encomenda e que têm feito sucesso na cidade. As entregas ficam por conta de Ilmar e feitas no sábado. Para o preparo dos alimentos com segurança e higiene, a produtora tem um cantinho especial em anexo à casa, que quer ir melhorando aos poucos. Além disso, procura se aprimorar através dos cursos oferecidos pela Emater/RS-Ascar e Prefeitura Municipal, como o de queijos e panificação, realizados no ano passado.

cucas e outros, feitos sob encomenda
Na propriedade, todo mundo se ajuda: seja na leitaria quanto na produção de pães e bolos. O filho mais velho, Eduardo, também já auxilia nas rotinas da leitaria, “dentro das possibilidades dele e fora do horário das aulas”, garante o produtor. De sua parte, o jovem gosta da rotina da propriedade, atividade que pretende dar continuidade. Quando os 18 anos chegarem a primeira atitude será a habilitação, para auxiliar os pais nas entregas e também nas idas à cidade. O mais novo, Vinícios, já sabe o que quer: “Quero ser caminhoneiro e dirigir uma carreta”, comenta, segundo os pais, certamente por influência do padrinho, que é caminhoneiro.