Na última terça-feira (19), estudantes vinculados à disciplina de Manejo Agroecológico da Criação Animal I, do curso de Agroecologia da FURG São Lourenço do Sul (FURG-SLS) realizaram uma aula prática no interior de Pelotas, na Propriedade Agroflorestal Schiavon (PAS). Localizada na Colônia Maciel, a PAS tem o primeiro sistema agroflorestal certificado do estado.
O professor Marcelo Stumpf, que ministra a disciplina e articulou a visita, explica que o objetivo principal era apresentar aos estudantes como é possível realizar o manejo de suínos em consórcio com árvores frutíferas junto à família Schiavon – agricultores que se inserem em uma perspectiva agroecológica e entendem os animais como mais um elemento dentro do agroecossistema. “A família Schiavon é referência agroecológica de nível internacional e foi uma honra podermos dividir nosso tempo com o Nilo que, sempre humilde, compartilhou seus manejos, estratégias e formas de enxergar uma propriedade agroecológica de forma sistêmica”, relata.
Segundo o docente, os suínos contribuem com a fertilização do solo e controle de plantas espontâneas do local, ao mesmo tempo em que se desenvolvem em um ambiente aberto, ao ar livre e com alimentação baseada em restos de culturas vegetais e outros alimentos encontrados dentro do próprio agroecossistema, como minhocas, insetos, raízes, folhas e frutos.
A dinâmica chamou atenção da estudante Aline Mello. Ela explica que entre os alimentos produzidos pela família Schiavon estão pêssegos e bergamotas. Com os animais soltos dentro da agrofloresta, eles têm acesso aos pêssegos que caem no chão no final da colheita, e auxiliam no controle das raízes das bergamoteiras, fator importante na nutrição da espécie.
Aline salientou também que por terem grande área verde e de pastagem, os animais conseguem ter a possibilidade de fuçar e revolver a terra, o que é importante no controle do estresse e da temperatura corporal deles. “É na prática que a gente vê essa relação aprendida na faculdade. Existe o convencional, chamado de produção animal – numa ótica um tanto quanto produtivista -, e em contrapartida, a visualização da criação animal, que se refere mais a uma criação agroecológica e que envolva também o bem-estar animal”, afirma a estudante.
A mesma percepção é compartilhada pelo professor Marcelo. De acordo com ele, os animais encontrados pelo grupo eram bonitos, visivelmente saudáveis e confortáveis ao poder expressar seus comportamentos naturais. “A dinâmica encontrada foge àquilo presente nos sistemas industriais, baseados em confinamento e uso de ração como fonte exclusiva de alimentação”, destaca o professor.
Parceria com a FURG
Com a propriedade certificada pela rede participativa Ecovida, o agricultor Nilo explica que receber olhares externos é importante para dar credibilidade ao trabalho que a família exerce. Ele conta que iniciou os trabalhos na propriedade em 1995 e, dois anos após, já começou a receber estudantes de escolas municipais. Um tempo depois, outras escolas começaram a lhe procurar, assim como instituições de ensino superior.
O agricultor relata que atualmente mantém uma parceria muito próxima com a FURG e com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), mas também recebe, eventualmente, comitivas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de institutos federais gaúchos. “Com a FURG e a UFPel é um trabalho bem mais estreito de parceria. Tanto eles vão aprender com o que eu faço como eu aprendo com o que eles me levam. Esse é o objetivo, é uma troca mútua de informações”, entende.
A criação de suínos ocorre desde o início dos trabalhos na PAS. “Fazem parte do nosso dia a dia, porque eles são parte do nosso trabalho dentro do sistema. É também uma fonte de alimentação sadia: tem a carne, tem a banha, tem a linguiça que é produzida por nós mesmos”, explica.