Rio Grande: História da fábrica Rheingantz é resgatada na Semana do Patrimônio

Visitantes podem contemplar a história e elementos que compõem o local. (Foto: Divulgação)

“As máquinas da fiação eram com rodas que andavam em trilhos, como trilhos de trem, e tínhamos de acompanhar o movimento indo e vindo, emendando os fios que rebentavam”. O depoimento da operária Clara Elaine Pereira Rodrigues retrata muito da vasta história que guarda uma das centenárias construções de Rio Grande: o complexo da fábrica têxtil Rheingantz, inaugurada em 1885, pela então princesa Isabel, próxima ao pórtico de entrada da cidade. Na história, a Rheingantz foi fundada em 1873, na rua Almirante Barroso, com o nome de Fábrica Nacional de Tecidos e Panos Rheingantz & Vater, tendo sido a primeira indústria têxtil do Rio Grande do Sul.

Localizado na atual avenida Rheingantz, o maior complexo fabril do século passado ainda deslumbra quem passa pelo local, seja morador da cidade ou visitante. Apesar de fechada há décadas, a antiga estrutura traz enormes recordações para quem trabalhou em um dos tantos pavilhões do famoso empreendimento, onde, no auge da sua atividade, chegaram a atuar cerca de três mil trabalhadores, mulheres em maioria, mas também homens.

Para resgatar um pouco da história da Rheingantz e homenagear algumas pessoas que por ali trabalharam, entre elas Clara Elaine, que tem o depoimento acima exposto em um dos vários estandes de um pavilhão da fábrica, a programação da Semana do Patrimônio no município, no sábado (19), proporcionou vários momentos culturais dentro dos pavilhões do complexo. Houve visita guiada, depoimentos e uma roda de conversa com ex-operárias, apresentação de dança e exposição de maquinários, fotos e outros objetos, como roupas e tecidos, produzidos pela fábrica.

Atualmente, a estrutura da Rheingantz passa por reformas com a proposta de vir a ser um museu. Por enquanto, alguns projetos visam dar maior visibilidade para a história da fábrica. Um deles, coordenado pela professora e arqueóloga Vanessa Avila Costa, é o Projeto de Extensão Memórias da Fábrica Rheingantz.

Vinculado ao Laboratório de Arqueologia do Capitalismo da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), a proposta com o projeto é mostrar o universo material da Fábrica e suas relações com as pessoas que trabalharam no local, especialmente com as mulheres que formavam a maior parte da sua mão de obra. Entre as ações desenvolvidas pelo projeto estão: a roda de conversa com ex-funcionárias(os), intitulada “Roda de Memórias da Fábrica Rheingantz”; a realização de entrevistas e gravações de vídeos com ex-operárias na fábrica; e a exposição itinerante “Lãs que tecem memórias: cotidianos de mulheres operárias na Fábrica Rheingantz”. A coordenadora frisa que o patrimônio não é apenas o maquinário, os objetos e o próprio prédio mas, também, essas outras memórias.

Outra proposta para conhecer um pouco mais do história fabril no município é desenvolvido pelo mapa virtual “Caminho fabril: patrimônio industrial da cidade do Rio Grande”, um dos resultados da pesquisa de estágio de pós-doutorado da pesquisadora e professora Olivia Nery, do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da FURG, supervisionado pela professora Maria Leticia Mazzucchi Ferreira (PPGMP-UFPel), com colaboração de Henrrisom Fernandes (FURG). A ideia é realizar caminhadas pelas rotas do projeto “Caminho Fabril”, com passeios guiados ocorrendo dentro de uma agenda fixa, mediante disponibilidade da coordenação e de equipe.

Para participar de uma das caminhadas é preciso fazer agendamento pelo site https://bit.ly/3OIPpIa. Uma das caminhadas ocorreu no sábado (18). A próxima está prevista para o dia 21 de outubro, às 10h30, com o roteiro “Trajeto Fábricas Têxteis e de Fumo”.

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