O ano de 2021 foi marcado por uma excelente safra de arroz no Rio Grande do Sul, em que foi atingida uma produtividade média de 9 mil quilos por hectare e isso trouxe ao mercado uma tranquilidade com relação ao abastecimento.
A observação é do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, ao falar sobre o ano de 2021 e as perspectivas para 2022. “Foi um ano diferente em relação à comercialização porque na maioria dos anos se tem um segundo semestre melhor do que o primeiro em relação a preços e neste ano, em função da produtividade maior e uma exportação menor, nós tivemos preços melhores no primeiro semestre do que estamos vendo hoje no mercado”, explica.
Isto é reflexo da questão da produção e da exportação, que cada vez mais traz uma referência ao mercado e isso faz com que a indústria tenha uma posição mais firme com relação ao varejo, explica. “Se tem a impressão que a indústria faz uma pressão de baixa mas muitas vezes quem faz é o varejo que compra “da mão para boca”, quantia pequena para abastecer o mínimo de prateleiras, o que faz com que a industria tenha uma posição diferente em relação aos produtores”, ressalta.
Segundo Velho, a Federarroz se dedica muito à questão da exportação porque ela é fundamental para regular melhor o mercado, trazer esta referência de preço e consequentemente, obter um preço que pelo menos supere o custo de produção.
Abertura de mercados
A importância que a entidade dá às exportações levou a diretoria da Federarroz ao México, no mês de outubro, ida da “Participamos em Guadalajara da Expo Antad que é a maior feira de alimentos do Pais”, ressalta. Segundo ele, o México importa de 800 mil a 1 milhão de toneladas por ano de arroz, o que o torna um grande mercado, mas preferencialmente dos Estados Unidos por uma questão de logística.
“Nós temos um arroz de qualidade superior em relação aos nossos concorrentes amaericanos e isso aliado a preço, faz com que a agente enxergue o mercado mexicano como importante junto com outros países da América Central como Nicarágua, Costa Rica, Venezuela, Peru, que tradicionalmente importam o nosso arroz”, diz.
Segundo ele, a quebra da safra americana em torno de 15% aliado a um dólar acima de R$ 5,50 e um preço americano hoje em torno de 15 dólares a saca, traz o Brasil de volta para o mercado, salienta.
“Isto nos mostra que teremos uma boa oportunidade, agora no início do ano até a chegada da nova safra americana, que entra lá depois de julho e agosto, de exportar um volume considerável, tirar o excedente do mercado interno e consequentemente termos um preço de referência melhor aos produtores”, aposta.
Outra preocupação se refere aos custos de produção. “Estamos trabalhando na área estrutural junto ao governo federal para buscar alternativas e diminuir o alto custo de produção do setor”, avalia. Segundo ele, a atualização dos custos por parte do Irga é necessária, mas é importante que cada produtor tenha o seu custo de produção, diz.
“O custo de produção do Irga é somente uma referência mas nós temos que ter o nosso custo porque cada realidade é diferente. Nós temos arroz em seis regiões diferentes do Estado e isto altera a realidade de cada propriedade que consequentemente tem que ter o seu custo”.
Velho ressalta que o produtor tem que profissionalizar o seu negócio. “Temos que ter cada vez mais uma gestão eficiente e, consequentemente, o custo e sistema de produção, com uma rotação de culturas que contemple não somente a soja, mas também o uso da pecuária e outras alternativas como milho”.
Segundo ele, já existem produtores de arroz fazendo trigo na várzea, uma alternativa a mais que precisa ser testada. “Falando na pecuária, em função de uma necessidade cada vez maior de cobertura vegetal para nós termos controle de invasoras com relação ao nosso solo, o uso cada vez maior de aveia, azevém e também do trevo persa no sistema de produção, é preciso intensificar o uso da pecuária”.
Ele reitera que as áreas de arroz têm que ter necessariamente alta produtividade para enfrentar este custo de produção muito alto e para isso, é preciso ter necessariamente esta rotação com a soja e com a pecuária. “Isto vai continuar e a busca é cada vez mairo pela intensificação do sistema de produção”, afirma.
O título da próxima Abertura da Colheita, que ocorre em fevereiro, já está definido. “Agricultura no pós-pandemia, novos patamares e novos desafios”, conta. “Nós não falamos no arroz mas em agricultura no pós-pandemia, exatamente neste sistema de produção, na rotação de culturas”, ressalta. Esta agricultura vai enfrentar e já está enfrentando novos desafios, que é este novo patamar de custos de produção, ressalta.
Em 2022, a Federarroz vai continuar insistindo na importância da exportação, que vai definir mercado e preços ao produtor, ressalta. “O produtor tem que continuar aumentando a área de soja, intensificando o uso da irrigação para ter uma estabilidade produtiva e olhar com muito cuidado para a exportação de arroz e entender que é um verdadeiro investimento”, diz. Ele desmitica a ideia de que a exportação seria uma cota de sacrifício, pela diferenças em relação ao mercado interno de R$ 1,00 a R$ 2,00. “É um investimento que vale a pena, que vai ser feito em 10% a 15% da área do produtor para que ele possa ter no restante uma melhor remuneração no mercado interno”, finaliza.
A entrevista foi concedida através do programa Balanço e Perspectivas, no Agropauta Web TV, o canal da Agro Effective no YouTube, onde pode ser acessada de forma completa.