Número de mortes provocadas por chuva na semana passada é o maior em ocorrências do tipo no RS em 40 anos

Caraá foi um dos municípios mais atingidos pelo ciclone extratropical da semana passada. (Foto: Maurício Tonetto/Secom)

Com 16 mortes confirmadas, o ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul na semana passada é o maior desastre natural relacionado a chuvas intensas das últimas quatro décadas no estado. Desde 1980, não há registros de outro episódio que tenha acarretado tantas perdas humanas devido a enxurradas no estado.

O evento gerou comoção social e mobilizou os órgãos governamentais no socorro e atendimento às vítimas. Em sequência ao amparo às famílias afetadas, o próximo passo será a recuperação das estruturas danificadas e destruídas.

“Embora tenha sido um evento de grande extensão e número de óbitos, os quais lamentamos, também está sendo possível verificar a grande e efetiva articulação dos órgãos de Estado e da comunidade para que os danos humanos sejam minimizados e a resposta seja a mais rápida e a melhor possível”, ressaltou o chefe da Casa Militar e coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil, coronel Luciano Chaves Boeira.

Até terça-feira (20), foram notificados à Defesa Civil Estadual danos e pessoas atingidas em 48 municípios. Há 1.538 desabrigados e 13.824 desalojados. Esses números são atualizados pelas Coordenadorias Municipais de Defesa Civil e podem sofrer alterações ao longo dos próximos dias.

Em novembro de 2022, a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) lançou um mapeamento das ocorrências de desastres naturais no Estado, analisando a sua distribuição e frequência. O material, elaborado a pedido da Defesa Civil Estadual, contempla o período entre 2003 e 2021.

O estudo teve como base a série histórica do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD), do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), que começa em 2003. No entanto, informações sobre mortos e feridos estão presentes apenas para o período 2017-2021.

“Se considerarmos os demais episódios de inundações, enxurradas e vendavais do período estudado, houve mais eventos nos últimos anos, mas este de agora é o que mais provocou danos”, afirmou o diretor do Departamento de Planejamento Governamental (Deplan), Henrique Gomes Acosta, da SPGG.

Conforme o estudo da SPGG, entre 2017 e 2021, mais de 4,4 milhões de gaúchos foram direta ou indiretamente atingidos por desastres naturais em 482 municípios do estado, havendo identificação de 14 mortes: cinco causadas por vendavais, quatro por enxurradas, duas por chuvas intensas, duas por tornados e uma por inundação. Nesse período, o número total de falecimentos foi ainda menor do que o contabilizado neste único episódio de junho de 2023, o que evidencia a sua magnitude e severidade.

A série histórica do S2iD/MIDR aponta a ocorrência de outro evento de ciclone extratropical em outubro de 2016, na região de Imbé, sem maiores danos humanos ou ambientais. No entanto, é possível que outros eventos de ciclone tenham desencadeado episódios que, na base do ministério, foram classificados pelos municípios que alimentam os dados como vendavais, enxurradas, inundações, alagamentos ou chuvas intensas.

De qualquer forma, considerando-se os números contabilizados até o momento pelas Coordenadorias Municipais de Defesa Civil, os danos humanos gerados pelo evento da semana passada fazem dele o mais grave dos últimos anos, independentemente do tipo de desastre. Em janeiro de 2019, por exemplo, houve uma chuva intensa em Alegrete, que resultou em duas mortes, 1.170 desabrigados e 4.357 desalojados. Esses números, no entanto, ainda estão aquém do efeito destruidor do evento registrado agora em junho.

Ainda de acordo com a pesquisa da SPGG, outros dois eventos chamados ciclone bomba ocorreram em 2020, com uma morte no Rio Grande do Sul. E antes desses eventos, em 2004, ocorreu o furacão Catarina, com 11 mortes, todas em Santa Catarina.

Destaca-se, ainda, a ocorrência de uma microexplosão (downburst), evento vinculado à tempestade, que afetou Porto Alegre em janeiro de 2016, com temporal e ventos de até 119,5 km/h, causando prejuízos públicos de grande repercussão na capital, sem registro de óbitos. O banco de dados do S2iD não registrou esses fenômenos.

Para verificar dados anteriores ao ano de 2003, é necessário consultar outras bases. Uma pesquisa de Bernadete Weber Reckziegel, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), apresentada em 2007, realizou um levantamento dos desastres desencadeados por eventos naturais adversos no Estado entre 1980 e 2005. Segundo o estudo, nenhum deles causou tantas mortes como o ciclone deste ano.

O estudo cita, ano a ano, as ocorrências de desastres naturais em solo gaúcho. Um dos mais devastadores foi um deslizamento, em Estância Velha, de parte do aterro de uma rodovia, que soterrou duas moradias e provocou a morte de dez pessoas. Em maio de 1997, um vendaval provocou sete mortes na região de Tapejara.

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