Michele Nunes Guerin, psicóloga clínica e especialista em Psicologia Clínica Humanista/ACP
Após quase um ano de isolamento social, algumas instituições estão voltando às atividades presenciais ou de forma híbrida, dentre elas as escolas. Muito se justifica pela necessidade de convívio social e pela volta a uma rotina que envolva atividades fora da residência, sendo este retorno benéfico tanto para as crianças e adolescentes, quanto para os pais e familiares.
Contudo, acredito que tenhamos que ter uma visão mais crítica a respeito deste retorno. Pensando no aspecto psicológico, o retorno ao encontro presencial pode realmente trazer benefícios, pois voltará a ocorrer experiências reais com grupos extrafamiliares. Por outro lado, o retorno com tantas limitações e restrições pode gerar conflitos internos e até modular a forma como esta interação ocorrerá, causando frustrações e críticas que podem ser mais maléficas do que a permanência em casa.
Imagine uma criança que instintivamente tira a máscara ou abraça algum colega e professor naturalmente, como será conduzido este fato? Como um ato espontâneo e natural ou como algo reprimível e digno de “punição”? Para que não gere traumas ou modulações repressivas, teremos que estar muito bem preparados emocionalmente para conduzir determinadas situações. O treinamento da equipe pode proporcionar uma atuação tranquila e segura, que será fundamental, visto que crianças e adolescentes se espelham diretamente em seus genitores e figuras adultas de convívio.
É uma fase de desenvolvimento intelectual, mas principalmente social e de personalidade. Precisamos levar em consideração todos estes aspectos para decidir se realmente é benéfico e seguro voltar às atividades escolares presenciais neste momento, onde estamos vivendo a quarta onda da Covid-19.
Muitos podem pensar que “falar é fácil”, mas ter uma criança ou adolescente em casa o tempo todo não é tão fácil assim! Posso dizer que vivo na pele este dilema, gostaria muito de afirmar que é seguro e 100% benéfico, mas como mãe de uma menina de seis anos, que está vivendo todo o processo de alfabetização em casa e certamente necessitando voltar a desenvolver a sociabilidade, não posso afirmar que será somente benéfico. Até mesmo porque precisamos considerar neste processo os professores e cuidadores que precisam estar tranquilos e, preferencialmente, imunizados para que façam o seu trabalho, que vai muito além de transmitir conteúdo, de forma saudável, tanto física quanto emocional.
Aqui trago apenas reflexões, devido à complexidade do momento, mas oriento que coloquem na balança os prós e contras para que a decisão seja tomada de forma saudável pela família e escola, visto que a interação escolar é fundamental no processo de desenvolvimento de cada um de nós e precisa ser seguro e claro, evitando distúrbios desnecessários.