Perder o essencial é hipocrisia

Dom Jacinto Bergmann. Foto: Divulgação

Texto de Dom Jacinto Bergmann

Eu me encontrava, Abbá, em Genesaré e o seus habitantes me reconheceram. De toda região vinham pessoas e levavam em macas os que estavam doentes. Suplicavam que pudessem ao menos tocar a borla da minha veste. Com alegria interior, eu constatava que todos que a tocavam ficavam curados.

Aconteceu então, Abbá, que um grupo de fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém, reuniram-se em torno a mim. Eles viram que alguns de meus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. De fato, os fariseus e os judeus em geral, apegados à tradição, só comem depois de lavar bem as mãos; ao voltar da praça, não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição, como, a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre.

Isso, levou, ó Abbá, os fariseus e os mestres da Lei me perguntarem: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” Inspirado pelo Espírito Santo, que me assiste na minha missão, percebi, ó Abbá, que era hora de chamar atenção ao demasiado legalismo e ritualismo dos fariseus e mestres da Lei. Lembrei-lhes as palavras do grande profeta Isaías e apliquei-as a eles, chamando-os de hipócritas. As palavras de Isaías são: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”.

Honrar-nos com os lábios, Abbá, mas o coração longe de nós, é hipocrisia; prestar-nos culto, mas ensinando doutrinas que são meros preceitos humanos, é hipocrisia; abandonar o nosso mandamento para seguir a mera tradição dos homens, é hipocrisia. Como o ser humano, criado com tanta semelhança conosco, perde-se no essencial e encontra-se no acidental! Como o ser humano, criado com tanta semelhança conosco, desvia-se da liberdade do espírito e fixa-se na escravidão da lei! É preciso sempre chamar a atenção!

Feita a advertência aos fariseus e mestres da lei, chamei a multidão mais perto de mim. Queria, Abbá, que todos escutassem e compreendessem bem a mensagem que lhes tinha a dar. Afirmei com toda a força: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo”.

Ter tomado o exemplo da pureza e impureza, penso, ó Abbá, que todos entenderam bem do que se tratava. Realmente o que torna impuro o homem e a mulher é o que “sai do interior”. Os exemplos que lembrei a eles, elenquei muitos para não deixar dúvida nenhuma: “Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o ser humano”.

Abbá, peço-te pela humanidade para que não se perca no essencial; para que sinta sua hipocrisia nessa perda do essencial; para que ouça a nossa voz e não ouça tanto “as vozes das serpentes”: essas são especialistas de fazer comer “das árvores proibidas. Amém!”

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