
O verão, com suas altas temperaturas e atividades ao ar livre, pode ser um período desafiador para pessoas com autismo, especialmente devido às questões sensoriais. Muitas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam hipersensibilidade, o que torna ambientes como praias e piscinas particularmente complexos. O barulho das ondas, o calor intenso, a textura da areia, o cloro da água e até o toque de outras pessoas podem causar desconforto ou sobrecarga sensorial, gerando ansiedade e estresse. Esses fatores, que para muitos são sinônimos de diversão, podem se transformar em verdadeiros obstáculos para quem vivencia o mundo de forma mais intensa e sensorial.
Na praia, por exemplo, a areia úmida ou grudada na pele pode ser um incômodo para quem tem sensibilidade tátil. A sensação de grãos de areia se movendo sob os pés ou grudando no corpo pode ser avassaladora, levando a reações de desconforto ou até mesmo a crises de ansiedade. Já o som constante das ondas e o burburinho de pessoas ao redor podem ser avassaladores para quem tem sensibilidade auditiva. O barulho do mar, que para muitos é relaxante, pode ser percebido como um ruído ensurdecedor, enquanto as conversas paralelas e risadas podem se misturar em uma cacofonia difícil de filtrar. Além disso, o calor excessivo, comum no verão, pode agravar a sensação de desconforto, especialmente para quem tem dificuldade em regular a temperatura corporal. Nas piscinas, os desafios também são significativos. O cloro, com seu cheiro forte e potencial irritante para a pele e os olhos, pode ser um fator desencadeante de desconforto. A temperatura da água, muitas vezes mais fria do que o esperado, pode causar choques sensoriais, enquanto o reflexo do sol na superfície da água pode ser incômodo para quem tem sensibilidade visual. Além disso, a textura de toalhas, roupas de banho ou até mesmo o contato com protetor solar podem gerar reações adversas. Para muitas pessoas com autismo, a sensação de cremes ou loções na pele pode ser extremamente desagradável, assim como o atrito de tecidos molhados ou ásperos. Ainda há as exposições nos vestiários.
Para tornar o verão mais inclusivo e agradável, é importante adotar estratégias que respeitem as particularidades de cada indivíduo. Levar itens que proporcionem conforto, como óculos de sol, protetores auriculares ou roupas com tecidos macios, pode ajudar a minimizar os impactos sensoriais. Escolher horários com menos movimento, como o início da manhã ou final da tarde, também pode tornar a experiência mais tranquila, reduzindo a exposição a barulhos intensos e aglomerações. Além disso, é fundamental que familiares, amigos e a sociedade em geral estejam atentos e dispostos a adaptar atividades, garantindo que todos possam aproveitar o verão de forma segura e prazerosa. A inclusão vai além da conscientização; é sobre criar espaços e práticas que acolham as diferenças. No caso das pessoas com autismo, isso significa entender suas necessidades sensoriais e emocionais, oferecendo suporte e respeito em todas as situações. É importante que estabelecimentos como praias, clubes e parques aquáticos estejam preparados para receber pessoas com TEA, oferecendo ambientes mais controlados e adaptados. A criação de espaços sensoriais – salas de regulação, onde seja possível descansar e se recuperar de possíveis sobrecargas, é uma iniciativa que pode fazer toda a diferença.
Além disso, a educação e a sensibilização da sociedade são fundamentais. Campanhas que promovam a compreensão sobre o autismo e suas particularidades podem ajudar a reduzir o preconceito e a criar uma cultura de empatia. Profissionais que trabalham em locais de lazer devem receber treinamento para lidar com as necessidades específicas de pessoas com TEA, garantindo que todos se sintam seguros e acolhidos. Assim, será possível transformar desafios em oportunidades de conexão e inclusão, permitindo que todos desfrutem dos momentos de lazer com dignidade e alegria.
O verão pode ser uma época de diversão e relaxamento para todos, desde que haja um esforço coletivo para entender e respeitar as diferenças. A verdadeira inclusão não se limita a garantir acesso, mas sim a criar experiências que sejam verdadeiramente significativas e positivas para todos, independentemente de suas particularidades.
Ângela PM Car
Terapeuta e Mãe Atípica Pós-Graduanda em Educação Inclusiva com ênfase em Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGD) e Altas Habilidades Instagram @prof_angelacar E-mail [email protected] |
Eduardo Gil Carreira
Advogado – OAB/RS 66.391 Pós-Graduando em Transtorno do Espectro Autista (TEA): Inclusão Escolar e Social Instagram @carreira.adv.inclusiva E-mail [email protected] |