Estamos em mais uma Semana Farroupilha e aproveitamos para relembrar como foi o começo do culto ao nosso tradicionalismo gaúcho:
A primeira tentativa de organização do tradicionalismo surge em 1898 com a criação do Grêmio Gaúcho em Porto Alegre, por Cezimbra Jacques. Em 10 de setembro de 1899 é fundada em Pelotas a União Gaúcha, que segundo o Diário Popular sobrevive até 1930 quando recepciona a nossa Miss Universo Yolanda Pereira.
Em 1937, Getúlio Vargas cria o Estado Novo e promove uma afronta às diferenças culturais do país. Estabelece a Constituição (conhecida como A Polaca) com o objetivo de unificar a nação. O gaúcho de São Borja institui que a bandeira, o hino, o escudo e as armas passam a ser os únicos no país. Com a cerimônia da queima das bandeiras em praça pública, ao som do hino nacional, quando são hasteadas simbolicamente 21 peças da bandeira nacional em lugar das estaduais fica clara a perda do poder regional e estadual. A partir daí, as mudanças profundas movem com o imaginário popular e a cultura passa a ser algo estabelecido pelo Estado Central.
Com a queda da Ditadura Vargas, o cotidiano regional começa a ser repensado. A imprensa começa a atuar livremente e os intelectuais retornam a divulgar o Brasil como uma nação de vários segmentos culturais.
O tradicionalismo organiza-se definitivamente a partir de 1947, quase como uma birra. Em agosto de 1947, em Porto Alegre, eclodiu forte uma proposta de esperança de liberdade e o amor a terra tinha vez e lugar. Jovens estudantes, oriundos do meio rural, de todas as classes sociais, liderados por Paixão Côrtes, criam um Departamento de Tradições Gaúchas (DTG) no Colégio Júlio de Castilhos com a finalidade de preservar as tradições gaúchas e também de desenvolver e proporcionar uma revitalização da cultura rio-grandense.
Numa tarde, João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes sai para tomar um cafezinho e avista uma bandeira do Rio Grande do Sul, servindo de cortina para tapar o vidro de uma janela do bar, entre cachaça e cigarro. O comerciante não sabia do que se tratava aquele pano; foi a gota d’água, juntamente com sete colegas Paixão cria um grupo, hoje conhecido como “Grupo dos oito ou Piquete da Tradição”. O grupo acompanha de-a-cavalo o translado dos restos mortais do General farroupilha David Canabarro para Porto Alegre, era o dia 5 de setembro de 1947.
Entusiasmados com a ideia daquele desfile, procuraram a Liga de Defesa Nacional e contataram o Major Darcy Vignolli, responsável pela organização das festividades da “Semana da Pátria”, expressam o desejo do grupo de se associarem aos festejos, propondo a possibilidade da retirada de uma centelha do “Fogo Simbólico da Pátria” para transformá-la em “Chama Crioula”, como um símbolo da união indissolúvel do Rio Grande à Pátria Mãe e do desejo de que a mesma aqueça o coração de todos os gaúchos até o dia 20 de setembro, data magna especial. Após o desfile da Pátria, Paixão retira em um cabo de vassoura com um pano embebido em querosene uma centelha e cria a “Chama Crioula”, que é levada ao DTG do Julinho, onde é feita uma “Ronda Crioula” até o dia 20 de setembro quando acontece o primeiro “Desfile Farroupilha”, fato esse que até hoje, passados 72 anos, os gaúchos preservam e consideram uma das suas mais caras tradições.
De alguma forma a Revolução Farroupilha e as comemorações atuais sintetizam o espírito, as crenças e os valores dos tradicionalistas comprometidos com a preservação e a valorização da história e da cultura do Rio Grande do Sul.
Convidamos a todos para acompanharem as festividades da Semana Farroupilha, que serão comemoradas no Largo do Mercado de Pelotas, bem como em todas as entidades tradicionalistas da região.