(Para Pe. Reinaldo Wiest)
Tem mate para o vigário? Esta era a pergunta que o padre Reinaldo Wiest fazia cada vez que chegava na casa de alguma família em que ele visitava, por ofício de seu labor. Sempre alegre, com o seu rosto iluminado, muito devido a sua luz própria, este servo do senhor ia visitar a sua “vinha”, ou seja, os fiéis de sua santa igreja em seus cotidianos comuns de homens rurais, que com o passar do tempo se transformaram em grandes amigos.
“A rigor o seu caminho deveria ser mais tranquilo em seus passos, para afinal ele cumprir sua missão e cair no esquecimento comum do cotidiano coletivo. Entretanto…”. A vida lhe traria grandes desafios, que somente com seus parcos recursos, não seria capaz de transpor. A sua inteligência, aliada a uma fé raciocinada e inquebrantável e a convicção dessa fé materializada em sua pregação e suas atitudes, alcançaram as pessoas que com ele conviveram e as que não, nos anos vindouros, pois seu legado permanece vivo hoje e continua a nos encantar.
O padre Reinaldo enfrentou chuva e frio, tempestade e raio, o minuano gelado, lhe desafiando a própria existência quando ele, sobre o lombo de seu fiel cavalo e amigo, percorria as estradas, os corredores e os atalhos até chegar as casas de seus fiéis, prova disso são os relatos ainda existentes, dos “antigos” que ainda vivem tanto em Piratini como na Vila Maciel, interior de Pelotas, os locais de sua seara religiosa.
Desde a sua infância e mocidade, foi se acostumando a disciplina e a superar os problemas, desafios que a vida nos proporciona, sabia qual era a sua missão e porque nasceu. A sua vida, seria o espelho da vida do próprio Cristo em atos e ações, em circunstâncias, atritos, Iniciativas, em testemunhos e estudos, em desapego e dilatação de entendimento dos propósitos terrenos, os quais todos estamos inseridos, mas que nós confundimos com os verdadeiros valores, e nos perdemos nos labirintos do orgulho, da vaidade e do egoísmo, em troca do verdadeiro sentido de nossa vida, a de sermos melhores um pouco a cada dia que passa.
Tem mate para o vigário? É o convite que ele nos faz para todos nós que porventura aceitarmos e agarrarmos firmes na “Cuia” de nossa Consciência, sorvermos este momento de reflexão, que a vida, o mundo e a pandemia nos reclama. O quanto hoje, estamos conseguindo sermos melhores do que nós fomos, ontem? O quanto do sofrimento do outro nos toca, até irmos até ele e ajudar? Seja apenas escutar, já é uma ajuda. Como estamos cuidando da natureza? Da nossa própria natureza íntima, emocional e psicológica?
O nosso redor, é uma célula do mundo e se esta célula estiver em paz, uma parte do mundo será pacífico! Por mais que nos doa, a dor, ela faz parte da natureza e das leis de Deus, assim como ela não é permanente, ela é transitória e propulsora para um novo estado de consciência. Cabe somente a nós escolhermos, que novo estado será este, se de trauma ou aquilatação de experiência, ai vale observamos como a natureza das plantas e dos animais reage, quando há uma agressão, há também um rebrotar, um cicatrizar, um sarar e um florir.
Decisão esta que pergunta o sentido de cada um viver, e por isso a responsabilidade de deixarmos pisadas ou rastros dignos de lembrança, como o mate do padre Reinaldo! Este padre, que transcendeu as décadas, pelo seu legado de amor, de desprendimento, devotamente ao seu semelhante, de renúncia, de luta, de sua entrega pelo próximo, sem querer nada em troca, apenas o bem-estar, a paz e a certeza do caminho certo, deste mesmo seu próximo.