Somos aquilo que comemos

A sentença é tão simples e verdadeira que deveria tocar direto à consciência das pessoas preocupadas ou não com o bem viver. A frase “somos aquilo que comemos” poderia ser uma criação publicitária da atualidade, dado apelo e fervor da mídia para o consumo, mas ao contrário, o dito foi proferido por Hipócrates, considerado pai da medicina, que divulgou a ideia há mais de 2500 anos. Ele também, provavelmente, foi pioneiro ao concluir que a boa alimentação tem efeitos medicinais e vem antes do remédio.

Acredito que mudar nossos hábitos alimentares depende muito mais de nós e ouvir os profissionais da área é fundamental. Também é valioso não se iludir com apelos publicitários por consumo de alimentos prontos, práticos e baratos. Muitas vezes provocam uma falsa sensação de modernidade e nos levam a ignorar certas propriedades prejudiciais ao nosso organismo.

Um dia desses estava indo para uma palestra. No caminho, cheguei a um restaurante para almoçar e observei um jovem pedir ao garçom um refrigerante de dois litros. O rapaz bebeu mais da metade durante a refeição. Estava um dia muito quente, é verdade, mas achei aquilo um pouco demasiado pra não dizer exagerado.

Ao chegar no evento, a palestrante, muito conceituada na região mostrou um vídeo intitulado: “Muito além do peso”, que em documentário mostrou, de forma prática situações da vida real nas quais crianças obesas consomem desmedidamente produtos industrializados, como salgadinhos, refrigerantes e outros carregados de conservantes.

Durante a palestra, lembrei-me o tempo todo do rapaz e do refrigerante de dois litros. A mensagem da nutricionista era direcionada a um público jovem e aos pais, que muitas vezes inconscientes e dominados diante dos apelos dos filhos se curvam ao choro, a má criação e acabam cedendo todo tipo de “alimento”, muitas vezes sem imaginarem ou ignorarem as consequências futuras. Segundo o documentário, atualmente, 53% das crianças no mundo sofrem com a obesidade.

Para o psiquiatra e professor em Educação da Universidade do Porto, Carlos Mota Cardoso, “vivemos numa altura em que há um fundamentalismo relativamente à silhueta, mas os casos de obesidade aumentam a cada dia”. Ele diz, também, que a publicidade promove mais doenças que saúde. Mas devemos atribuir a culpa somente a publicidade? Penso que não, este é um tema de responsabilidade de todos. O exemplo deve começar em casa, ser reforçado na escola e tornar-se, inclusive, uma política pública, afinal, estamos falando da saúde da população.

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