Saravá

Conheci Carlos Eugênio Meirelles Prestes, carinhosamente chamado por todos de “Saravá”, já nos seus últimos capítulos de vida… Era uma noite fria de maio, em um sábado, igualmente muito frio, apesar de maio ainda não ser inverno… não que eu já não o conhecesse de ouvir falar de sua pessoa ou de suas proezas, como a que “quando ele voava, sim ele era aviador, sobre os céus de Canguçu, nossa querida Princesa dos Tapes, ele sempre anunciava aos passageiros através do sistema de rádio do avião, que estava sobrevoando a sua terra querida, Canguçu”, mas eu não podia ainda chamá-lo de amigo e irmão.

Após este sábado frio, começamos a conviver toda semana, as segundas-feiras à noite, por questão de uma instituição em comum, e aí pude conversar mais calmamente e ouvir suas histórias, suas impressões acerca do mundo, do papel de cada um nesta vida e, principalmente, o que estamos fazendo como seres humanos racionais neste planeta finito e interligado com tudo.

Numa dessas segundas-feiras, ele me relatou de como ficou sabendo do ataque às torres gêmeas no Estados Unidos. Era de manhã e sua esposa avisou de tal fato. Quando Saravá estava a tomar banho, quando ele entende o que ocorreu, imediatamente pede para que sua esposa abra um vinho para comemorar tal ato. Maquiavélico os leitores aqui vão pensar… como eu raciocinei, quando ele me relatava tal acontecimento, mas enfim, após sua esposa trazer o vinho, ele explica, que num passado não muito remoto o mesmo Estados Unidos mandou assassinar Salvador Allende, que foi o primeiro socialista marxista, a ser eleito democraticamente como presidente de República e chefe de Estado na América, no caso no Chile. Allende, assim como Prestes, o nosso querido Saravá, pertenciam a mesma ordem secular, que promove o livre pensamento sobre todas as coisas e luta veementemente contra o todo e qualquer tipo de fanatismo e subjugação humana, a Maçonaria.

Outro fato carinhosamente lembrado por estas linhas era quando eu me dirigia ao Sr. Carlos, e o chamava de Senhor, ele imediatamente me repreendia, dizendo que somos filhos do mesmo PAI, por isso somos irmãos, numa lição de humildade, uma vez que nesta simples repreensão ele “rebaixava” sua “estatura” cultural, inclinando do alto de seu conhecimento, de sua vivência, até o mesmo nível de meus parcos e remotos ângulos de sabedoria. Ele estava sempre disposto a compartilhar suas experiências, com os mais novos, como saber que seriam sementes a frutificar…

Ficam as memórias, para nos abrandar a saudade!

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