Como responsável pela produção de conteúdo para esta coluna, assim como pela produção e apresentação do Programa Hora Marcada, veiculado de segunda à sexta-feira pela Rádio Tupanci AM 1250, persevero numa constante luta por espaços de comunicação para debater e discutir as perspectivas para o desenvolvimento da Zona Sul, questionando a falta de representatividade política em nível estadual e federal, por tudo isso lamento o encerramento das atividades da Rádio Pelotense.
Assim como a maioria da população de radiouvintes de Pelotas e região, e por certo dos funcionários da emissora, não sou portador de conhecimento suficiente sobre o contexto que levou a direção da Pelotense encerrar as atividades.
Então, com todo o respeito que é devido à emissora mais antiga do Rio Grande do Sul, à direção e aos profissionais que ora interrompem suas atividades, dedico minha solidariedade neste 31 de agosto de 2023 momento em que a história do rádio no Rio Grande do Sul deixa de ser contada pelo prefixo AM 620.
Desabafo
Começo este desabafo antecipando minhas desculpas e respeitando os preceitos do jornalismo, oferecendo este espaço para o devido contraponto de quem for citado(a) e desejar fazê-lo.
Mais uma rádio encerra as atividades em Pelotas. Primeiro a Rádio Cultura AM 1320, agora a Rádio Pelotense AM 620 desliga seu transmissor.
Em pelotas temos três canais de televisão e pelo tipo de outorga todos devem gerar conteúdo local, no entanto, dois deles não geram um minuto sequer, saiba você leitor que existe diferença entre canal de TV repetidora e geradora.
Antes da pandemia, o único canal de televisão que gerava conteúdo na cidade já havia suprimido o jornal local das 19h. No período de pandemia a programação foi reestruturada restando poucos minutos para Pelotas.
Durante a pandemia, a população pelotense enclausurada em casa, buscou informações onde?
Como saber qual faixa etária estava apta a receber a dose da vacina? Como saber se o banco estava atendendo para fazer a prova de vida para os aposentados? Como saber em quais locais estavam fazendo o teste da covid-19? Nas redes sociais! E os idosos que não utilizam redes sociais?
Caros leitores, tenham a certeza, eu poderia enumerar aqui centenas de perguntas feitas pelos ouvintes que foram respondidas pelo rádio, aliás, pelas rádios AM, que tem programas em que a população pode interagir, perguntar, se manifestar, ter voz.
Escrevo estas linhas em meu lugar de fala, um lugar de quem trabalhou na rádio presencialmente todos os dias da pandemia, lugar de fala de quem atendeu todas as perguntas de ouvintes, lugar de quem conseguiu prover as necessidades mais básicas dos ouvintes, como a informação se a agência do INSS estava atendendo.
Além de enfermeiros, médicos, técnicos de enfermagem, motoristas e outros profissionais das mais diversas áreas, as rádios e os radialistas também ajudaram a salvar vidas com a informação. Recebi dezenas de depoimentos que através das minhas palavras, familiares dos ouvintes se convenceram e tomaram a vacina.
O encerramento das atividades da Rádio Pelotense, mexeu com algo que já havia amainado dentro de mim. Falo de uma insatisfação com a Agert, Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão. Embora eu não tenha a outorga de um canal de rádio, muito menos de TV, procurei e não constatei nenhuma ação da Agert, valorizando o rádio e seus profissionais, exceto comerciais nas próprias rádios.
A Agert desperdiçou a oportunidade de contratar um instituto de pesquisa que através de métodos científicos e estatísticos, comprovaria a importância do rádio, dos radiodifusores e dos profissionais de comunicação para o estado de bem-estar da população no período pandêmico.
O encerramento das atividades de mais uma rádio, leva a crer que, cada vez mais nos restará usar a ciência e seus métodos científicos, para contar a história do rádio no Rio Grande do Sul em TCCs, Teses de Mestrado e outras produções científicas, visto que, ao mesmo tempo que Pelotas tem duas universidades com graduação em Jornalismo, consegue ter duas rádios encerrando as atividades. É como ter um curso de medicina e não ter hospital para a residência e formação dos médicos.
