Theo tem 7 anos. Como muitas crianças, junta moedas que pais e familiares lhes dão para comprar algo de seu interesse. A diferença começou quando em sua escolinha foi introduzida uma conversa sobre finanças pessoais e a necessidade de uma motivação maior para gastar. O “cidadão” não teve dúvidas: pediu aos pais que destinassem seus R$ 91,60 para o hospital de Carlos Barbosa, a fim de comprar equipamentos que auxiliassem os profissionais na linha de frente da pandemia. Surpresos, classificaram como “uma injeção de ânimo e esperança para os desafios que ainda estão por vir”.
Destaquei a atitude do menino “cidadão” por aquilo que representa: atos como este não acontecem do nada, são frutos de aprendizado que se faz ainda no colo dos pais e do entorno social em que se é criado. O momento difícil, sem perspectiva de solução a curto prazo, exige que os educadores repensem sua atuação, não apenas para os próximos meses, mas para os próximos anos. Analistas alertam que 2021 sofrerá com a necessidade de isolamento e prevenção. O que foi feito sem planejamento e grandes reflexões no ano passado, agora merece uma atenção mais do que especial.
Discuti com amigos que vai ser necessária uma pedagogia para o pós-pandemia. Embora muitos não gostem e ainda estejamos longe do “novo normal”, é certo que as práticas presenciais mudarão e se precisará investir num novo (ou recondicionar) processo educacional. É um alerta para o que foi flagrado pelo sistema educativo de que as classes sociais abastadas estavam preparadas tecnicamente, o mesmo não acontecendo com os mais pobres. Com um problema: ambas não tinham “monitores” em condições de atender aos alunos em todas as suas necessidades.
O núcleo familiar que deveria prestar este serviço através de pais ou de irmãos mais velhos sentiu na pele o estresse de acompanhar as crianças. Depois de terem terceirizado o processo de educação dos filhos – chegaram a suplicar pelo retorno das aulas – também porque se importavam pelo aprendizado, mas porque tinham um turno integralmente ocupado na escola e lhes dariam uma folga. Está aí um serviço que não pode ser negociado ou oferecido para outros. A família que não acompanha efetivamente o aprendizado do filho está a meio caminho para negar a educação.
O site soescola.com listou o que se agrega em cada ambiente: em casa se aprende a cumprimentar, agradecer, desculpar-se, pedir licença… a ser honesto, pontual, não xingar, ser solidário, respeitar os amigos, os mais velhos, professores… também é ali que se aprende a não falar de boca cheia, ser limpo, não jogar lixo no chão, organizado, cuidar de suas coisas, não mexer nas coisas dos outros, a ter limites. Vai-se para a escola para aprender português, matemática, geografia, educação física, história, ciências, línguas, enfim, conhecimentos gerais. E reforça o que se aprendeu em casa.
Regras que as crianças seguem nos jogos e exemplo dos pais cuidando a natureza ajudam a entender relações sociais e noção de ecologia, por exemplo. Achar que porque é criança não precisa chamar a atenção ou deixar que quebre galhos e flores é semear comportamento que se reflete nas demais etapas da vida. Theo é “cidadão” porque os pais, desde cedo, indicaram o caminho da solidariedade e compreensão das mazelas humanas. A entrega das moedas é um pequeno gesto, recoberto de significado, que marca seu desenvolvimento e, com certeza, vai marcar o seu próprio caráter!