Não falo dos Vândalos de Cartago, aqueles que saquearam Roma e destruíram obras de arte.
Falo dos nossos, autóctones, sorrateiros e criativos nos seus esforços para destruir o que resta do prédio do Clube Comercial de Pelotas.
Sobre o Clube – associação regida por estatutos que suponho estejam alinhados ao novo Código Civil – nada falo. Já falei e, assim como os sócios proprietários, aguardo a posição do Conselho Deliberativo, afinal são públicas as transações patrimoniais envolvendo o Clube.
O prédio vandalizado é tombado, histórico e isento do pagamento de IPTU justamente por isso. Lentamente está sendo arruinado.
No ritmo em que vai, em breve, teremos um escombro no centro de Pelotas a nos lembrar que ali existiu o exemplar arquitetônico mais bonito e luxuoso do Rio Grande do Sul construído no século 19.
Se tem incentivos tributários dados pela comunidade, é óbvio que ela deva saber como estão sendo geridos. Não são permanentes – está na lei – podem ser retirados.
Há no Clube sócios pagantes, também chamados contribuintes, que assumem prestações mensais ou anuais que lhes garante o direito de frequentar as instalações da Instituição. Os proprietários – os donos da instituição – detém cotas patrimoniais. Mas se quiserem desfrutar das atividades oferecidas pelo Clube, deverão pagar mensalidades. Se não quiserem, permanecem donos do seu quinhão. Por isso, proprietários.
Os sócios contribuintes – parece que ainda existem – devem ter algum tipo de entretenimento que os motive. Sabe-se lá se não há algum campeonato de quebra cabeças em curso. Não falo no sentido literal, do tijolo que eventualmente possa desabar no andar de baixo. Falo no jogo de salão, tão em moda, onde algum tipo de montagem possa estar em curso, como é característico desses desafios lúdicos.
Recebi no celular fotos dos portões de ferro novamente arrombado. Minha esperança é o diligente Ministério Público Estadual. De outros, todos sabemos, haverá um vergonhoso e obsequioso silêncio, como em casos similares recentes.
E assim, demolições de espaços autênticos, históricos, vão se sucedendo, quem deveria fiscalizar ensaboa as mãos e finge que não vê.
Não será surpresa quando alguma cidade turística da Serra montar prédios parecidos com os nossos e estruturar uma Pelotas fake, onde futuras gerações poderão visitar nossos casarões e nosso passando num roteiro turístico que vai movimentar a economia lá do outro lado do Estado.
Ficarei aqui, como Catão, o velho.
“Carthago delenda est”
*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista