O rádio perde um professor

Sérgio Corrêa, jornalista e radialista.

MADRUGADA DE QUINTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2023, FALECEU JOSÉ MARIA MARQUES DA CUNHA.

O HOMEM, O CIDADÃO E O PROFISSIONAL

José Maria Marques da Cunha, Professor Cunha, Juca ou qualquer outra forma pela qual era chamado, tornavam-se justificáveis em razão dos diversos ambientes em que Cunha viveu e influenciou com o seu desejo de construir algo novo. Lembro-me de uma tarde chuvosa de inverno, eu e o Cunha na sala da direção da Rádio Universidade Católica, tratando de algo sobre o Programa Expresso Noturno que eu apresentava aos sábados na emissora.

Então, do nada, alguma palavra, uma expressão, disparou um gatilho, acionando meu instinto de entrevistador que, somado a minha curiosidade me instigaram a interrogá-lo sobre sua vida. O mais incrível é que ele não se opôs aos meus questionamentos alegando falta de tempo, muito pelo contrário, fez questão de fazer aquela viagem autobiográfica.

Caro leitor, minha conversa com o Cunha aconteceu há pelo menos vinte anos, as informações são todas fidedignas, contudo, é necessário dizer que posso não ter colocado algumas atividades profissionais na devida ordem cronológica. Desde jovem José Maria Marques da Cunha alimentava uma paixão pelo rádio.

Contudo, seu primeiro emprego foi como estafeta (office boy) no Curtume Yurgel, posteriormente ao concluir os estudos foi professor e diretor do Colégio Estadual João XXIII, trabalhou no Banco Francês e Brasileiro, na equipe de esportes da rádio Cultura de Pelotas, tendo sido colega de grandes nomes dentre eles Pedro Curi, Alfredo Petrucci e outras feras do rádio. Foi o primeiro diretor da Rádio Universidade Católica de Pelotas (RU/UCPel), fundada por Dom Antônio Zattera em 25 de julho de 1967, posteriormente foi fundador da Rádio Alfa FM, assim como da Rádio Cosmos FM, hoje Federal FM da Universidade Federal de Pelotas.

Realizações

No futebol, criou uma equipe para cobrir os clubes pelotenses em todas as competições que disputaram. Cobriu também o Futsal da UCPel, Fórmula 1, Paddle, Copas do Mundo, Copa Libertadores, Pré-Olímpico e amistosos da seleção brasileira.

Criou vinhetas com frases de efeito à época, gravadas no Rio de Janeiro. Em 1969, 1970 e 1971, promoveu o festival de música chamado Samba Jovem, um concurso de música universitário que lotava auditórios e era anunciado pela frase “Quando setembro vier”. Foi um desses eventos que revelou a dupla Kleiton e Kledir.

O Samba Jovem foi o primeiro LP gravado em Pelotas contendo as 12 músicas selecionadas na terceira edição do festival.

Projetos

Em 1998, Cunha levou a rádio para a passarela do samba, cobrindo o Carnaval de Pelotas, a partir daí, em 2002, quando a emissora completou seu 35º aniversário, criou o Bloco da RU.

Em parceria com a Universidade Católica de Pelotas gravou o Hino de Pelotas e, por três anos consecutivos, promoveu a gravação dos sambas-enredos das Escolas de Samba da cidade.

Levou a rádio para o Quiosque Nelson Nobre Magalhães, na Rua 15 de Novembro, com o projeto Rádio na Rua onde se apresentaram diversos artistas pelotenses.

Como presidente do Clube Brilhante, levou a criatividade utilizada nas vinhetas do rádio e criou a frase que definiria o Brilhante daquele momento em diante.

Cunha escreveu: “Brilhante, um clube para todos os dias”.

GRATIFICANTE

Lembro do brilho no olhar quando Cunha falava de momentos no rádio que impactava, que produzia emoções, quando uma pessoa desaparecida era localizada com a participação da rádio através de comunicados feitos pelos locutores. Outra lembrança que era gratificante segundo Cunha, era a transmissão do resultado dos vestibulares da UCPel e da UFPel.

MOMENTO TRISTE

Em 1988 um curto-circuito provocou um incêndio que atingiu diversas dependências da rádio destruindo grande parte do acervo, inclusive o registro dos primeiros programas.

QUINTA-FEIRA 25 DE MAIO

A coluna manifesta aos familiares e amigos nossos sentimentos de pesar pelo falecimento de José Maria Marques da Cunha.

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