Um dos motivos para assinar meus textos como “educador” é chamar a atenção de quem está ou esteve na área e tem esperança de que nem tudo está perdido. Sabendo das lutas, muitas vezes inglórias (condições de trabalho, salários, participação efetiva), mas também de que, em momentos difíceis, não se pode apenas desistir. Inspiro-me naqueles e naquelas que, até o último suspiro, acreditaram que tinham algo a aprender… e podiam se tornar “facilitadores” para que outros também aprendessem.
Exatamente esta é a diferença de quem se propõe a ser um educador, ou apenas se contenta com a profissão de professor. O segundo tem uma série de conteúdos e estratégias que pode repassar a um ouvinte, na maior parte das vezes passivo, mas não se julga comprometido. O primeiro lida com a vida do seu aprendiz, ajuda a encontrar e apontar caminhos. Sabe que mais do que aquilo que transmite pelos diversos meios, iniciando pela oralidade, vai se dar pelo exemplo e coerência de vida.
Podem – e devem – ser educadores: figuras públicas, religiosas, políticas, do ensino, da comunicação… Em tempo de crise, tornam-se referências, lideram naturalmente pela capacidade e carisma. Não deixam de ter suas identidades políticas e ideológicas, mas por seu espírito público são capazes de ver que a “política” no seu sentido maior, tem que prevalecer. Os interesses da população – neste momento, as menos favorecidas e marginalizadas – precisam receber orientações confiáveis e corretas.
Não foi o caso do presidente Jair Bolsonaro, no uso da máscara protetora. Se expôs e acabou expondo pessoas que se sentiram seguras porque ele é o “presidente”, alguém de quem não se espera uma atitude temerária. O pior para o processo de educação é que seus advogados entraram na Justiça para que fosse liberado. Como assim? Se uma figura pública erra – até o presidente – precisa ter humildade e voltar atrás, mas não partir para o confronto apenas porque se julga “diferente” ou melhor do que os demais.
Infelizmente, exemplos de “deseducação” estão nos telejornais: ministro da educação falseia seu currículo ao dizer que é “doutor”, sem de fato o ser; o anterior engana serviços de imigração de um país para escapar do que poderia ser uma prisão no Brasil; e um conhecido advogado resvala em todas as explicações que dá quando parte do desconhecimento de uma testemunha que embaraçaria a família do presidente, até – a mais recente – de que o escondeu para que não fosse assassinado.
Vendo ex-alunos, hoje, na comunicação, fico preocupado: configura-se a máxima de que “na prática, a teoria é outra”, jogando para o ar padrões da ética e da moral. Um novo “normal”, o pós-pandemia, com certeza, vai deixar todos nós mais pobres, mas se há um lugar de onde poderemos ressurgir é pela educação, dando às crianças e jovens não apenas a perspectiva do que consumir, mas em que transformar a própria vida.