Há certas lembranças escondidas que pulam como salteadores saindo das moitas e árvores das encostas – praticamente do nada – como se fizessem parte de filmes de capa e espada.
Dia desses, eu ia enfrentar uma terceira reunião, já satisfeito de vários cafezinhos, me ofereceram a possibilidade de um chá.
Aceitei a opção sem saber quais folhas tantas viriam naquele bonito bule.
Servida a xícara, senti o cheiro e o gosto do velho chá de maçanilha da minha infância.
Voltei no tempo.
Retornei ao pátio da casa da minha avó Teresa, na antiga rua Ruy Barbosa, onde havia por todo lado aquelas pequenas flores brancas e amarelas que ela me convidava a colher sempre que eu aparecia por lá.
Depois, ela fazia o chá, que era bom pra tudo. E eu, criança, ficava admirado que aquelas florzinhas – catadas naquele quintal – que nasciam livres, perto do quarador de roupas, perto do lugar onde algumas peças ficavam de molho no anil, pudessem ser fervidas em água e fizessem tanto sucesso ao lado das bolachas Maria, que a vó sempre tinha. Essas, vendidas numas latas grandes, da Cotada.
Hoje, a rua Ruy Barbosa daqueles tempos é a Felix da Cunha. A gente, para chegar na vó, dobrava na Vitorino, que agora é Anchieta.
Maçanilha agora vem em pacotinhos, identificada como Camomila. Ninguém mais coloca roupas para quarar, poucas pessoas conhecem o azul anil que escorria daquela trouxinha de pano que alvejava as camisas do meu avô, naqueles dias do século passado.
Terminei meu chá e descobri mais uma propriedade entre as maravilhas que faz a maçanilha: me fez sorrir numa tarde gris.
*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista