Memória pequena flor

José Henrique Pires licenciado em Estudos Sociais pelo ICH-UFPel, especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha, jornalista e radialista. (Foto: Divulgação)

Há certas lembranças escondidas que pulam como salteadores saindo das moitas e árvores das encostas – praticamente do nada – como se fizessem parte de filmes de capa e espada.

Dia desses, eu ia enfrentar uma terceira reunião, já satisfeito de vários cafezinhos, me ofereceram a possibilidade de um chá.

Aceitei a opção sem saber quais folhas tantas viriam naquele bonito bule.

Servida a xícara, senti o cheiro e o gosto do velho chá de maça­nilha da minha infância.

Voltei no tempo.

Retornei ao pátio da casa da minha avó Teresa, na antiga rua Ruy Barbosa, onde havia por todo lado aquelas pequenas flores brancas e amarelas que ela me convidava a colher sempre que eu aparecia por lá.

Depois, ela fazia o chá, que era bom pra tudo. E eu, criança, ficava admirado que aquelas florzinhas – catadas naquele quintal – que nasciam livres, perto do quarador de roupas, perto do lugar onde algumas peças ficavam de molho no anil, pudessem ser fervidas em água e fizessem tanto sucesso ao lado das bolachas Maria, que a vó sempre tinha. Essas, vendidas numas latas grandes, da Cotada.

Hoje, a rua Ruy Barbosa daqueles tempos é a Felix da Cunha. A gente, para chegar na vó, dobrava na Vitorino, que agora é Anchieta.

Maçanilha agora vem em pacotinhos, identificada como Camo­mila. Ninguém mais coloca roupas para quarar, poucas pessoas conhecem o azul anil que escorria daquela trouxinha de pano que alvejava as camisas do meu avô, naqueles dias do século passado.

Terminei meu chá e descobri mais uma propriedade entre as maravilhas que faz a maçanilha: me fez sorrir numa tarde gris.

*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista

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