O mês de maio finalmente chega ao fim, mas os seus efeitos se prolongarão indeterminadamente no tempo. Ao conversar com desabrigados, desalojados, voluntários e profissionais que estão trabalhando em meio à catástrofe, podemos perceber que todos têm a mesma sensação: a de viver todos os dias o mesmo dia.
Os sinais de exaustão já aparecem nos rostos e corpos cansados e a estafa mental já não deixa outros assuntos entrarem na pauta das conversas cotidianas. Todos os dias as mesmas frases são repetidas a cada encontro ou reencontro “como tá tua família?”, “foste atingido?”, “o Canal baixou hoje”, “e o Laranjal? que cenário…” – as palavras já saem no automático.
Os sentimentos de medo e angústia vão dando espaço aos de cansaço, perplexidade ao ver suas casas e negócios afetados e dor ao pensar no tanto de tempo investido em cada conquista que hoje parece ter sido varrida pela água.
O mais impressionante é que, nesse mundo tão acelerado que vivemos, a vida nos cobra para seguir em frente – o trabalho, a sociedade, a política, a economia. Será que conseguiremos e podemos voltar ao normal? Fingir que nada aconteceu?
O assunto do Rio Grande do Sul saiu do trending topics, já passou o hype, mas quem continua aqui, segue padecendo e precisando.
É claro que a vida precisa ser retomada aos poucos, mas não se pode ignorar que neste infindável mês de maio vivemos a maior tragédia da história do estado do Rio Grande do Sul. Por isso, é preciso compreensão, é preciso cuidar dos amigos, familiares e colegas, pois ainda não é possível dimensionar a magnitude dos efeitos que isto vai deixar na vida e na história das pessoas.
A VIDA NÃO PODE SER A MESMA DE ANTES
É sabido que com o passar do tempo, as doações diminuem, a mobilização ameniza e, no fim de tudo, quem junta os cacos do que restou é quem continua vivendo as tragédias que se protraem no tempo.
Entretanto, não é possível esquecer. Mas o que fazer então? A proposta é trazer aqui algumas maneiras de fazer a diferença neste momento de reconstrução:
Consuma marcas gaúchas. Contrate profissionais gaúchos. Divulgue o trabalho de profissionais liberais do Rio Grande do Sul. Aprenda e converse sobre a pauta das mudanças climáticas. Não deixe de acompanhar as notícias do estado e dos municípios pelos veículos de comunicação locais. Doe o que puder – tempo, visibilidade nas redes sociais, dinheiro, roupas que não usa mais, alimentos. Adote um animalzinho resgatado. Conheça as histórias das pessoas afetadas. Neste ano de eleições, se atente às propostas dos candidatos e candidatas sobre o meio ambiente. Combata as fake news e a desinformação. Valorize as universidades públicas, apoie a ciência, consuma conteúdos de cientistas brasileiros e de todos aqueles que trabalham para que estas tragédias possam ser evitadas – pois em cada sala de situação estavam os cientistas trazendo o retorno do dinheiro público investido nas universidades em prol da população. E, principalmente, conheça e esteja presente na sua rua, em seu bairro e em sua cidade.
O JORNALISMO NÃO PARA
Colaboração e imagens: Giulia Viapiana Corrêa