Maio de 2024: todo dia o mesmo dia

Sérgio Corrêa, jornalista e radialista.

O mês de maio finalmente chega ao fim, mas os seus efeitos se prolongarão indeterminadamente no tempo. Ao conversar com de­sabrigados, desalojados, voluntários e profissionais que estão tra­balhando em meio à catástrofe, podemos perceber que todos têm a mesma sensação: a de viver todos os dias o mesmo dia.

Os sinais de exaustão já aparecem nos rostos e corpos cansados e a estafa mental já não deixa outros assuntos entrarem na pauta das conversas cotidianas. Todos os dias as mesmas frases são repeti­das a cada encontro ou reencontro “como tá tua família?”, “foste atingido?”, “o Canal baixou hoje”, “e o Laranjal? que cenário…” – as palavras já saem no automático.

Os sentimentos de medo e angústia vão dando espaço aos de can­saço, perplexidade ao ver suas casas e negócios afetados e dor ao pensar no tanto de tempo investido em cada conquista que hoje parece ter sido varrida pela água.

O mais impressionante é que, nesse mundo tão acelerado que vi­vemos, a vida nos cobra para seguir em frente – o trabalho, a socie­dade, a política, a economia. Será que conseguiremos e podemos voltar ao normal? Fingir que nada aconteceu?

O assunto do Rio Grande do Sul saiu do trending topics, já passou o hype, mas quem continua aqui, segue padecendo e precisando.

É claro que a vida precisa ser retomada aos poucos, mas não se pode ignorar que neste infindável mês de maio vivemos a maior tragédia da história do estado do Rio Grande do Sul. Por isso, é preciso com­preensão, é preciso cuidar dos amigos, familiares e colegas, pois ainda não é possível dimensionar a magnitude dos efeitos que isto vai deixar na vida e na história das pessoas.

A VIDA NÃO PODE SER A MESMA DE ANTES

É sabido que com o passar do tempo, as doações diminuem, a mobi­lização ameniza e, no fim de tudo, quem junta os cacos do que res­tou é quem continua vivendo as tragédias que se protraem no tempo.

Entretanto, não é possível esquecer. Mas o que fazer então? A pro­posta é trazer aqui algumas maneiras de fazer a diferença neste momento de reconstrução:

Consuma marcas gaúchas. Contrate profissionais gaúchos. Divulgue o trabalho de profissionais liberais do Rio Grande do Sul. Aprenda e converse sobre a pauta das mudanças climáticas. Não deixe de acompanhar as notícias do estado e dos municípios pelos veículos de comunicação locais. Doe o que puder – tempo, visibilidade nas redes sociais, dinheiro, roupas que não usa mais, alimentos. Adote um animalzinho resgatado. Conheça as histórias das pessoas afe­tadas. Neste ano de eleições, se atente às propostas dos candida­tos e candidatas sobre o meio ambiente. Combata as fake news e a desinformação. Valorize as universidades públicas, apoie a ciência, consuma conteúdos de cientistas brasileiros e de todos aqueles que trabalham para que estas tragédias possam ser evitadas – pois em cada sala de situação estavam os cientistas trazendo o retorno do dinheiro público investido nas universidades em prol da população. E, principalmente, conheça e esteja presente na sua rua, em seu bairro e em sua cidade.

O JORNALISMO NÃO PARA

Colaboração e imagens: Giulia Viapiana Corrêa

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