Os educadores vivem tempos conturbados. Para quem achava que o período de pandemia se transformaria em férias espichadas deu-se conta de que acabou sendo um grande jogo de xadrez e uma baita dor de cabeça. No ensino particular, professores estão tendo dificuldades de atender a todas as demandas dos alunos pela internet. E, nas redes públicas, tiveram que se reinventar para descobrir formas mais adequadas de alcançar os alunos, especialmente aqueles que vivem em situação precária, nas periferias mais pobres.
O acesso a computadores e tablets é um obstáculo e um desafio que exacerbam o distanciamento. O empobrecimento da população – jogando a classe média baixa para a pobreza e a pobreza para uma miséria com o nariz de fora – acirra o que já se discutia, sem grandes necessidades de conhecimentos sociológicos: a educação é uma das ferramentas que pode oportunizar mudanças na escala social. Mas ao que tudo indica a precariedade do momento faz com que os horizontes estejam se fechando.
Para repassar os conteúdos não basta apenas a decisão das instâncias políticas – que são devagar, quase parando – mas mexer em orçamentos em que a própria máquina consome grande parte dos recursos. Fundamental é o empenho dos professores, apesar de tudo, dando o sangue, o suor e a “cerveja” para não perder o vínculo, especialmente com as crianças. Motivá-las para, num espaço sem ambiente adequado, continuar acompanhando um mínimo necessário para não perder o que ainda resta da “sequência pedagógica”.
As instâncias básicas do ensino recebem o apelo lúdico, com instruções para realizar pequenas tarefas e interagir a distância. Alunos dos últimos anos estão preocupados com o desempenho para garantir vaga na universidade. Porém, uma maioria viu aulas desaparecerem e não tem o que fazer. Ouvi de profissionais o quanto é estressante estar num caminho que poderia ter sido preparado, mas que, a emergência, ao invés de maquinário adequado, alcançou-lhes as próprias mãos para desbravar picadas.
O certo é que todas as “invenções” destes meses de pandemia reforçam o entendimento de que o ensino remoto – por mais que tenha se demonstrado necessário neste momento – é limitado e não consegue atender a toda a população escolar. Seja para o retorno ainda este ano, ou para 2021, o momento de planejar novas estratégias é agora. O tempo em que alguns ficaram isolados ou vagando pelas ruas vai deixar marcas e será necessário pensar tanto na questão dos conteúdos recuperados, quanto do acolhimento emocional.
Professora do ensino básico preparou envelopes e pediu aos pais que retirassem na escola. Atividades e bilhete lembrando de tempos em que estiveram juntos. A emoção da educadora e o retorno de pais e alunos ao perceber a disposição da “profe”, que batizou como o “envelope da saudade”: sabe que educação passa por conteúdos técnicos, mas também por um olhar de carinho que vai além da sala de aula, acompanha a vida e marca um destino!