Educação: o custo de um ano perdido

Quatro meses depois que medidas mais efetivas foram tomadas para que a população possa se precaver do coronavírus, ainda não se tem um quadro definido do que será o pico da pandemia, o preço que vai se pagar por ele e a sequência do que pode ser o novo “normal”, nas relações pessoais, de trabalho, com a escola… entre brincadeiras de que este ano não precisa ser contado na comemoração de aniversário – já que é um “ano perdido” – e a realidade de que é um tempo difícil, antevendo momentos mais difíceis ainda.

Tenho falado a respeito do empobrecimento da população como um todo: pela perda de emprego (comércio e indústria), de fontes de ganho (catadores, biscateiros, diaristas…), mas, também, porque estamos vendo os preços serem reajustados acima da inflação, que serve para os indexadores oficiais. Porém, na prática, não diz nada, pois o que se vê na gôndola do supermercado é o reajuste de praticamente todos os produtos. No caso dos assalariados e aposentados, fazendo com que com os mesmos valores se compre menos.

Mas há uma outra perda que merece atenção: o processo educacional. Embora haja, aqui e ali, focos de bom ensino em todos os níveis, no conjunto da obra, o que se teve nos últimos anos foi um declínio de qualidade que se pode perceber tanto no público, quanto no privado. A pandemia chegou de surpresa e os orientadores pedagógicos se viram da sala para a cozinha a fim de articular um ensino a distância sem técnicos preparados, professores com conteúdos adequados e monitores para dar assistência nas residências.

Esta discussão ainda vai longe, mas o que se está fazendo – literalmente de improviso – é um arremedo de educação. Sem saber ao certo quanto tempo tudo isto vai durar, as medidas são paliativas, remendos numa estrutura que já está solapada pelo descaso e omissão de educadores e autoridades do setor. As reportagens feitas, especialmente pela televisão, mostram o quadro de moradias com um mínimo de estrutura para adequar o serviço dos pais em sistema de trabalho na residência, estudos e atividades das crianças.

Casas e apartamentos têm sido construídos como lugares de passagem e não de estadia, portanto, não há espaços ajustados para trabalho e estudo. Não é à toa que o estresse dos últimos meses causou crise na relação entre casais, que já acumulavam problemas, e no convívio diário em espaços reduzidos explodiu em 150% de aumento nos pedidos de divórcio. A reclamação de pais que não sabem o que fazer com os filhos e, quando os deixam à vontade, não sabem o que fazer com os vizinhos que reclamam do barulho.

Responsáveis e professores sabem que é difícil competir com mídias eletrônicas e redes sociais. Em alguns casos – ainda raros – educadores fazem delas aliadas. O certo é que, pelas desigualdades sociais, alguns têm computadores nos quartos; outros amargam smartphones defasados ou não tem nada. Um desafio para quem sabe que educação não tem preço, mas a falta tem um alto custo no sentido para a vida e à realização pessoal.

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