Churrasco Carmem Miranda

José Henrique Pires licenciado em Estudos Sociais pelo ICH-UFPel, especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha, jornalista e radialista. (Foto: Divulgação)

Claro que os tempos mudaram. Os sinais estão em toda a parte, até nos churrascos!
Não faz muito tempo, antes de irmos a um assado gaúcho, colocávamos uma faca prateada na cintura ou pegávamos uma faquinha que as empresas distribuíam de brinde e rumávamos ao local do churrasco com a certeza de que encontraríamos espetos prontos para darmos um bom talho na carne, que invariavelmente continuaríamos cortando num prato, com um pouco de farinha de mandioca grossa e, caso quiséssemos, completaríamos a refeição com algum feijão mexido, um pouco de arroz e, talvez – quem sabe – com uma salada de cebola e tomate.

Mas, o principal, os pedaços de carne podiam ser cortados, comíamos um assado suculento e quente, assim como uma linguiça ou salsichão, que eram sempre servidos antes, com pedaços fartos.

Hoje, quando chega a carne, depois de servirem uma impressionante e colorida quantidade de vários tipos de abóboras assadas, abacaxis, pimentões, bananas, batatas doces, maçãs e sabe-se lá mais o quê, servem uma carne cortadinha como se estivesse pronta para o arroz de carreteiro do dia seguinte. As linguiças vêm em tirinhas, pouco mais largas que moedas, como se fossem troco daquela carne picotada. Geralmente, chegam em gamelas onde há uma temperada farinha com condimentos orientais, mascarando o gosto da carne que, invariavelmente, nos chega fria, por ter sido picotada antes.

Obviamente esse “chica-chica bum” gastronômico rende clics, selfies e compartilhamentos.
Para azar de quem aprecia uma boa carne assada, que gosta de uma costela de ovelha “soltando do osso”, isso tá cada vez mais raro.

O local de assar era sagrado. Só o assador e algum auxiliar manuseavam os espetos junto ao braseiro, com costelas gordas de rês, ovelhas, leitões ou cortes nobres temperados apenas com sal. Até havia algum frangote, esse sim, bem temperado, pois sempre era prevista a presença de alguma criança manheira ou pessoa de muita idade, que poderia requerer um pedaço de galinha antes da refeição ficar bem pronta.

Hoje não! Há carrosséis de ferro rodando com abóboras, mini rodas gigantes repletas de frutas, com seus abacaxis sapecados, bananas, tomates quentes, queijos tostados, uma gigantesca quantidade de pão com alho e tudo mais que, colorido, possa ser passado no fogo antes de ser servido.

Quem continua comendo bons pedaços – como sempre comeu –
é o assador.

Ou alguém lembra de já ter visto algum deles se fartando de mogangos rotativos?

*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista

1 comentário

  1. Parabéns, Henrique!
    Brilhante como sempre.
    Pior que os “mogangos rotativos” só a “picanha vegana”, que felizmente ainda não faz parte do cardápio.

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