Bem-querer dos adondes

A sombra da figueira grande

Para Vanessa R.W e EMEF
Julio de Castilhos

A sombra da figueira grande
Onde um pastor lecionava
Aos poucos tomava forma
De um galpão que ensinava!

O pastor – professor chegava
a cavalo
Tudo muito simples, mas
organizado
Alguns livros sob a mesa
improvisada
A bandeira de Canguçu ali, lado
a lado

Desde cedo o pastor aprendeu
Que o saber não ocupa espaço
Que “cabe” tantos ensinamentos
No silêncio de um abraço!

Feito a figueira que abraça
Com sua sombra copada
Todos que dela se achegam
Com carinho de mãe amada!
Toda criança que quer aprender
Tem o direito do saber igual
Porque na humana vivência
Todo mundo é especial!

E a figueira virou galpão,
E o galpão um educandário
Uma escola ergueu-se do chão
Mudando aquele lindo cenário

Lá na Estância da Figueira
Esta escola sempre nos ensina
Uma verdade tão antiga
Que a cada dia mais se afirma:

O amor a terra é universal
Gaúcho não é só índio e
português…
Pois fizemos parte do
mesmo chão
É negro e alemão, tudo de
uma só vez!

E todo aluno da escola da vida
Deve ajudar ao seu semelhante
Pois a cultura tem o mesmo valor
Seja ela brasileira ou imigrante!

Esta foi a letra que desenvolvi sobre a história de fundação da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Julio de Castilhos, localizada na Estância da Figueira, 2º Sub Distrito de Canguçu/RS, a pedido da equipe docente e diretiva desta escola, a fim da mesma participar da 33ª Ciena (Ciranda Estudantil Nativista), festival que movimenta culturalmente todo o município, ocorrido nos dias 17,18 e 19 de outubro do corrente ano.

Repercutiu nas redes sociais as postagens, laureadas de primeiro e segundo lugar, exibindo as medalhas, num afã competitivo, onde provavelmente foi esquecido o verdadeiro sentido desta ciranda. Das oportunidades que tive acompanhando, o sentido competitivo tem se destacado mais, e aí há uma desigualdade, porque as escolas do interior, algumas não têm as condições financeiras de ofertar o material necessário para uma apresentação à altura, de uma escola, onde coexiste uma parcela de alunos oriundos de algum CTG mais aquinhoado.

Quando a competição fica em destaque, acirram-se mais e mais as disputas, perdendo naturalmente o verdadeiro espírito, de porque tal movimentação material e pedagógica de uma iniciativa como a Ciena acontece. Mas como de costume, as escolas fazem o possível e o impossível para participarem da ciranda.

O que me chamou a atenção sobremaneira foi o fato de uma aluna que se apresentou nesta escola, o qual também foi inspiração para a letra acima escrita, que não enxerga o mundo com as cores que nós estamos acostumados a enxergar, mas nem por isso, se apresentou menos alegre, pelo contrário, deu uma verdadeira aula de superação, de esperança, de fé, de dedicação e de arte!

Muitas vezes somos privados de algo que queremos, e isso nos incomoda profundamente, mas quando vemos exemplos como da Vanessa, que mesmo não conhecendo a vida, com os traços que nós estamos acostumados a ver, nos proporcionou uma lição de motivação pessoal e de estímulo, de não abatimento, quando não logramos sucesso em algo que queremos.

A 33ª Ciena ficou marcada por este lindo espetáculo que foi apresentado a todos, mostrando que a arte não é premiação, e sim superação e inspiração. Não é aplauso, e sim dedicação na mensagem transmitida. E o maior reconhecimento que se pode ter é um coração transbordando de alegria, inundando o rosto de um sorriso de contentamento em poder realizar um sonho!

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