A noite escura da ignorância

Quando lecionei no curso de Jornalismo da Universidade Católica, um dos meus colegas trabalhava numa instituição com pesquisadores. Tanto ele, quanto os estudantes que lá estagiavam, sempre foram categóricos em afirmar que as pesquisas realizadas na área da produção agrícola eram vastas e poderiam resultar em grandes benefícios para os produtores rurais. Mas havia um problema: os cientistas eram avessos a apresentar seus resultados ao grande público, não conseguiam traduzir a linguagem técnica para aquela que tornaria de melhor compreensão todos os seus conteúdos.

Foi do que lembrei ao ouvir o depoimento do epidemiologista Pedro Hallal, que, só para constar, tem graduação em Educação Física, mestrado e doutorado em Epidemiologia, por uma universidade pública, a Federal de Pelotas. De uma nova leva de pesquisadores, não tem dificuldades e encadeia argumentos de forma lógica e didática. Confirmou dados divulgados e foi honesto em reconhecer o que não sabia. Disse o que é constatação técnica: pesquisadores sinalizaram em alerta e o governo brasileiro errou na forma como conduziu a prevenção e o tratamento da pandemia.

No dia 23 de junho, o coordenador internacional da Pastoral da Criança e referência nacional para a área, Nelson Arns Neumann, esteve na live Partilhando, da Arquidiocese de Pelotas, e foi categórico: por onde andou, no Mundo, as pesquisas na área da epidemiologia da Federal de Pelotas são referência para estudos e posturas públicas. Para que não restem dúvidas, Nelson se formou em Medicina, fez seu mestrado em Epidemiologia e doutorado em Saúde Pública, já tendo atuado como médico e missionário leigo na diocese de Bacabal, no Maranhão.

Muitos pontos podem ser destacados do depoimento prestado à CPI, mas, confesso, um detalhe me incomodava e Pedro usou uma figura apropriada para esclarecer: aqueles que preferem valorizar a estatística dos recuperados (não curados, porque ainda não se tem certeza de que sequelas ficarão), em detrimento das mortes. Como assim? o sistema de saúde tem a obrigação de tratar e recuperar pacientes e evitar, ao máximo possível, as mortes. Neste caso, de fato, minimizar perdas e valorizar “curas” é comemorar gol a favor, quando já se levou mais sete. E que, num país com tantos problemas, precisaríamos de lideranças mais fortes e medidas enérgicas para evitar o pior…

Não conheço o professor Pedro Hallal, pessoalmente, mas faz política e das boas, a que se preocupa com pessoas, cuidando, especialmente, de quem mais precisa. Seu trabalho me representa e grande parcela da população que está aturdida com tantas informações desencontradas e gente amarga que destila veneno, criando supostos “inimigos” até naqueles que buscam melhorar as condições de vida de todos nós. De um jeito ou outro, vai passar. A ciência vai ajudar a minimizar as perdas. A noite escura da ignorância precisa ser vencida pela informação e pela esperança. A marca de mais de 500 mil mortes não pode ser a lápide que sepulta a nossa própria consciência de viver em sociedade!

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