Piratini: “Diversificar a produção é a melhor forma de reduzir os prejuízos causados por situações climáticas adversas”, afirma chefe da Emater

Com o suporte da Emater, os Bersch Milbratz inseriram o morango no cultivo da propriedade. (Foto: Divulgação)

O setor agropecuário de Piratini tem como principais fontes de desenvolvimento que impactam no orçamento anual da Prefeitura o tripé formado pelo setor madeireiro, a soja e a pecuária ovina e bovina.

De acordo com o chefe do Escritório da Emater/RS-ASCAR, Benhur Farias Martins, a área destinada à soja, 50 mil hectares, está entre as mais amplas da Zona Sul. Já o rebanho bovino é de 140 mil cabeças e o ovino, de 80 mil. Todas essas atividades foram prejudicadas com as cheias de maio. “Do que foi direcionado à soja, 15 mil hectares não foram colhidos, o que ocorreu não só em virtude dos tantos dias de chuva, mas, inclusive, pela ausência dela nos meses de fevereiro e março, o que prejudicou tanto o enchimento de floração e o enchimento do grão. Em média, colheu-se 35 sacas por hectare plantado, levando a uma quebra de safra de 30%”, detalhou.

O engenheiro agrônomo acrescentou que a pecuária registrou 15% de perda. Tantos números negativos levaram ao endividamento dos produtores locais que aguardam auxílio do governo Federal para manter em dia os financiamentos junto às instituições bancárias.

Martins explica que esse é um dos riscos de quem pratica a chamada monocultura, ou seja, investe todo o esforço e recurso financeiro em uma só cultura. O agricultor fica suscetível a perder toda a plantação durante fenômenos climáticos adversos. “Uma das saídas é, se possível, diversificar a produção. Isso permite se socorrer financeiramente naquilo que, por exemplo, é resistente à geada ou não é afetado pela chuva em demasia ou ainda pela seca”, apontou o engenheiro agrônomo.

Em 2016, em seu caderno especial destinado ao Dia do Colono e do Motorista, o JTR destacou o trabalho do casal Iolanda Bersch e Solismar Milbratz. À época, eles contaram que decidiram deixar seus empregos e apostar na plantação de hortaliças em apenas um dos cinco hectares comprados a dois quilômetros do Centro Histórico de Piratini.

Naquele ano, a reportagem perguntou aos descendentes de alemães se valeu a pena deixar a segurança proporcionada pelo salário pago em dia mensalmente. “Sim, muito. Não nos arrependemos um só instante” foi a resposta.

Voltamos à propriedade apontada pelo gestor da Emater como um dos exemplos da diversificação necessária para ter uma saída quando o clima não colabora para uma boa safra. O questionamento feito há oito anos se repetiu: E a resposta? “Ainda estamos longe do pretendido. Sim, temos problemas que carecem de soluções, mas da nossa parte não há nenhum arrependimento por termos deixado de ser empregados e passarmos a viver do nosso esforço e no que é nosso”, afirmou Iolanda.

A área destinada ao cultivo ainda é a mesma. Já o cenário que encontramos é totalmente diferente. O casal construiu uma casa aconchegante e, atualmente, a residência que tinham no bairro Santa Isabel está à venda.

Os três filhos cresceram, mas dois deles permanecem junto aos pais. A construção do imóvel foi finalizada em 2021, sendo fruto de muito trabalho na lavoura. Hoje, as três estufas que, até então, eram do modelo “túnel alto” deram lugar a outras cinco do tipo “guarda-chuva”, que protegem não somente as hortaliças, mas também os morangos que cultivam há três anos. Os agricultores contam com o suporte técnico e orientações da agrônoma e extensionista rural da Emater, Simone Padilha, para a mais recente fonte de renda. “Eles acessaram o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar, e com o recurso destinado pelo Pronaf instalaram nessas estufas de 5×30 metros cada, onde cultivam o San Andreas, variedade de morango ideal para nossa região”, explica a agrônoma.

Nas estufas, ainda couve, mostarda, alface, cenoura, temperos verdes, repolho e couve-flor. Solimar afirma que a agricultura proporcionou tudo o que a família possui. O produtor rural entende que o que hoje eles têm não é muito, mas está melhor do que quando começaram. “Não dá para reclamar. Diariamente entram R$ 20, R$ 30… E de pinguinho em pinguinho mantemos o necessário para os gastos básicos”, revela o agricultor.

A principal fonte de renda da família vem do comércio permanente das hortaliças em fruteiras, minimercados e supermercados da cidade, como também para o Estado e Município, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para inserção na merenda escolar.

Há um ano, o casal ganhou o reforço do filho Jadson, 27 anos, que decidiu, assim como os pais, tornar-se independente financeiramente. “Ele deixou o emprego em um supermercado e veio produzir aqui, onde construiu a casa onde mora com a esposa e, que bom, pode começar com bem menos dificuldades que nós, já que tem o amparo dos dois Tobatas, algo que não era possível quando iniciamos”. Solismar se refere aos motocultivadores, veículos agrícolas de pequeno porte utilizados para preparar a terra antes da plantação.

O foco atual do casal de agricultores é a compra de um utilitário com cabine fechada para transportar a produção até a cidade e as escolas. Os produtos ainda são levados em um Gol, que é insuficiente com relação ao espaço necessário, bem como inadequado para este fim.

Além disso, Milbratz reclama da falta de mão de obra para ajudá-los na lida diária de campo. “Não conseguimos pessoas para trabalhar. No nosso ofício não é preciso nada além de paciência, tempo e dedicação, o que é bem difícil de achar”.

A extensionista Simone atesta que a multicultura é o ideal para quem vive da agricultura sofrer menos impacto dos prejuízos causados pelo clima, cintando exemplo do casal de produtores rurais. “Falando especificamente da decisão de diversificar, por exemplo, tanta chuva este ano é claro que prejudicou a produção, especialmente a de morangos. Mas para evitar um dano financeiro maior, (eles) contam com a comercialização das hortaliças, todas debaixo da estufa, portanto, protegidas. Desta forma, o impacto causado pela intempérie foi e continuará a ser bem menor”, afirma.

Milbratz concorda com a agrônoma e afirma que estão felizes por terem inserido a fruta nas suas atividades. “Pela ausência de sol, que praticamente não apareceu por semanas em maio, deixando os dias chuvosos e sombrios, luminosidade que faz falta ao morango, a colheita, que é mensal, não foi boa, o que já havia ocorrido em setembro do ano passado.

Mas não temos do que reclamar, afinal, de 2022 até 2023, primeiro ano de cultivo, de mil plantas, colhemos no mínimo um quilo de cada uma delas. E isso só foi possível porque essa variedade, aconselhada a nós pela Emater, necessita de temperatura em torno de 15 a 25 graus, o que é comum, principalmente na Primavera”, detalha o produtor rural.

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