Fruto da articulação entre Senar-RS, Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Associação Brasileira da Proteína Animal (ABPA), Embrapa, Federação das Cooperativas Agropecuárias do RS (Fecoagro/RS), Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz), Associação das Empresas Cerealistas do RS (Acergs), Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos (Sips) e Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), o programa Duas Safras veio para ampliar a renda do produtor rural e aumentar em 40% a capacidade do agronegócio gaúcho. Segundo a Assessoria Econômica da Farsul, o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) do estado pode representar um aumento de 7%, aproximadamente R$ 31,9 bilhões.
Um dos objetivos do programa é explorar áreas que no inverno não estejam envolvidas com a produção de grãos. A colheita serviria para resolver dois problemas. Um é a dificuldade de alimentar o rebanho bovino no verão com forragens conservadas, quando a atividade perde área para o plantio de soja.
A outra é o déficit de aproximadamente 9 milhões de toneladas de milho, principal fonte energética de aves e suínos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O Rio Grande do Sul tem pelo menos cinco milhões de hectares disponíveis atualmente. Desses, ao menos 1 milhão de hectares são áreas destinadas ao arroz, que ficam em período de descanso entre ciclos produtivos. Esses espaços poderiam ser usados no cultivo de milho.
As entidades coordenam esforços para intensificar a produção sustentável da agropecuária no Rio Grande do Sul, com a otimização de áreas produtivas de inverno, ampliação da produção de cereais, produção de milho em áreas de várzea e de forragens de inverno destinados à pecuária. Estes temas estão entre as pautas do seminário itinerante do “Programa Duas Safras no RS – mais produção o ano inteiro”, que até dezembro, deve completar a realização de dez edições. Lançado oficialmente em abril deste ano, a agenda do programa iniciou por Santo Ângelo e já passou também por Porto Alegre.
Pelotas recebeu a terceira edição, no dia 12 de julho, realizada no Centro Português 1º de Dezembro, quando mais de 600 pessoas acompanharam, durante todo o dia, as palestras da programação, focadas em discussões técnicas e de mercado a respeito da cultura do milho e da soja em terras baixas e o sistema Integração Lavoura-Pecuária (ILP).
O programa contou com relatos de experiências de produtores e foi prestigiado por diversas lideranças dos sindicatos de produtores da Metade Sul do estado, assim como personalidades do agronegócio gaúcho. A próxima etapa ocorre em Alegrete, no dia 16 de agosto.
O superintendente do Senar/RS, Eduardo Condorelli, destaca o momento vivido pela agropecuária gaúcha como oportunidade para o cenário interno e mundial. “Reunimos produtores e estudantes para que possam conhecer as tecnologias disponíveis nos centros de pesquisa da Embrapa, e possam tomar suas decisões para ampliar os seus negócios, que influenciarão e ampliarão a economia em toda a sociedade”, disse.
Segundo ele, a agenda mostrou não apenas a vontade de entidades, mas sinais claros de cenários de mercado e economia para os participantes e, ao longo do dia, apresentaram-se as tecnologias que podem ser utilizadas para intensificar os sistemas produtivos e levar inovações, sendo que a cada etapa do seminário itinerante, o foco da programação atenderá às especificidades de cada região.
Condorelli reforçou que a expectativa do Programa é quebrar paradigmas, que não seja apenas o plantio de arroz, mas outros plantios em várzea, como apostar em cultivos de inverno. “Plantamos no RS quase oito milhões no verão, e somente 1,3 milhão no inverno, cujas culturas podem ter mais produção”, enfatizou. Ele ainda lembrou que nesta nova realidade uma safra inteira de cereais de inverno foi exportada pelo Porto de Rio Grande, destacando a demanda de mercado existente neste momento.
O presidente do Sindicato Rural de Pelotas, Fernando Rechsteiner, destaca o dinamismo da atividade agropecuária e o papel da região para a implementação do programa. “O projeto Duas Safras deve trazer para a região Sul, a produção de milho como mais uma alternativa de renda para os produtores”, explica. E junto com a produção de milho vem a de carne, principalmente suínos e aves, a exemplo da produção de bovinos, que já tem uma integração entre lavoura e pecuária, com pastagens de inverno de excelente qualidade, diz.
“O que está nos faltando é trazermos para a região e estado uma produção maior de carne de aves e suínos, que têm mercado externo ávido em consumir estes produtos”, ressalta.
Segundo ele, o milho é matéria-prima fundamental para a alimentação desses animais e, por isso, o projeto visa o aumento da produção do grão e outras culturas de inverno para o fortalecimento da cadeia de produção de aves e suínos.
“No momento estamos voltados a este projeto, mas novos devem vir, pois estamos em região privilegiada em termos de solo, mananciais de água doce e também logística, pela proximidade do porto e, precisamos aproveitar isso para o desenvolvimento agropecuário e também a atração de indústrias”, salienta.
Durante o seminário, foram apresentados quatro painéis sobre Cenários Econômicos e Mercadológicos; A Pecuária em Sistemas Integrados de Produção; Produção de Milho em Terras Baixas; e Sistema Sulco-Camalhão em Terras Baixas. Giovani Theisen e José Maria Parfitt, pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, apresentaram algumas tecnologias para o público participante. Theisen integrou o painel econômico, no qual mostrou opções técnicas que a pesquisa agropecuária dispõe e atende a ideia do Programa Duas Safras.
“Apresentamos as opções de tecnologias de manejo de grãos como a soja, o milho, o trigo em terras baixas, com a integração da pecuária. Indicamos três maneiras de aumentar a produção: avançar em áreas onde não se fazia agricultura; buscar maior produtividade; fazer mais safras por ano”, disse.
Theisen citou, como exemplo de avanço de áreas agrícolas, o eixo entre Jaguarão e Barra do Ribeiro, que possui uma área de 800 mil hectares, de superfície plana, em terras baixas. Destes, 150 mil ha são destinados ao cultivo do arroz e 130 mil ha direcionados para soja, sobre o que ele questiona: “E o restante da área é dedicada a qual tipo de produção? Nós buscamos apontar números para mostrar como podemos utilizar melhor as áreas agrícolas para produção de alimentos”, disse.
De acordo com ele, a Embrapa, através das quatro unidades de pesquisa do Sul do país (Clima Temperado, Pecuária Sul, Suínos e Aves e Trigo) está mobilizada para tecnicamente indicar tecnologias viáveis para o Programa. “Inclusive, com a escassez de milho para o segmento de aves, está em estudo a formulação de rações alternativas para os animais à base de arroz e cereais de inverno como trigo, triticale e outros”.
O pesquisador Parfitt apresentou a tecnologia de produção de grãos com uso de sulco-camalhão, direcionada para terras baixas, com objetivo de diversificar o sistema produtivo. “O RS ainda tem como carro-chefe o cultivo de arroz, mas temos um cenário que aponta a diminuição de áreas desse cultivo. Como se tem uma realidade de disponibilidade de água na nossa região e com o apoio do uso da tecnologia sulco-camalhão, a irrigação se torna disponível para o desenvolvimento desta cultura, em escassez no estado. O milho passa então a ser uma opção de grão a ser produzido, pois é a nova fronteira agrícola gaúcha”, explica.
Para Parfitt, o estado deverá atingir em torno de dois a três milhões de hectares de soja e milho nos próximos anos. Este painel contou também com a moderação do coordenador técnico da Estação Experimental Terras Baixas, André Andres.
A atividade inseriu a apresentação de tecnologias de ILP feita pelo pesquisador Danilo Santanna, da Embrapa Pecuária Sul, que mostrou algumas alternativas como as tecnologias Pasto sobre Pasto e Pasto 365 Dias como diversificação da propriedade rural na produção de forrageiras sendo uma forma de manter a produção pecuária integrada à área agrícola, expandindo o negócio e ampliando a renda do produtor.
Os painéis contaram também com relatos dos produtores rurais Gabriel Mello de Souza Fernandes, da Estância Santa Maria, de Pedras Altas; Lauro Ribeiro, da Agropecuária Canoa Mirim, de Santa Vitória do Palmar; e Paulo Nolasco, da Fazenda São Francisco, de Jaguarão.
Abertura da Colheita do Arroz
O objetivo preconizado pelo programa Duas Safras já vem sendo defendido há várias edições da Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas e repercute na 33ª edição, que terá na lavoura principal além do arroz, as culturas da soja e do milho. Segundo o presidente da Federarroz, Alexandre Velho, essas novidades vem ao encontro da temática da próxima edição, intitulada “Arrozeiros como produtores multissafras”.
“Isto mostra o direcionamento da entidade em levar alternativas de sustentabilidade ao setor. Hoje nós temos mais um “i”, que é o da Intensificação da Integração Lavoura-Pecuária”, destaca.
A organização da 33ª Abertura Oficial já trabalha na realização do evento, que será realizado de 14 a 16 de fevereiro de 2023, na Estação Terras Baixas, da Embrapa Clima Temperado, em Capão do Leão. Entre as novidades anunciadas pelos organizadores, está o ato da abertura da colheita, que irá acontecer já no segundo dia de evento. Além disso, a área da pecuária no evento também contará com mais espaços.
Os painéis no auditório também ganharão mais uma tarde inteira de debates a fim de proporcionar mais um momento de conteúdos e informações. A feira também será ampliada no evento para comportar mais expositores devido ao grande número de interessados em expor durante os três dias de abertura da colheita.
Em 2022, nove mil visitantes presenciais e mais dois mil online, de 20 Estados brasileiros e de 15 países diferentes, prestigiaram o evento, que contou com mais de 100 expositores e 40 vitrines tecnológicas, que apresentaram as novidades e inovações para o setor.
Para 2023, o evento manterá os formatos on-line e presencial e a expectativa é receber mais de 10 mil visitantes. O evento conta com a realização da Federarroz, correalização da Embrapa e apoio do Instituto Riograndense do Arroz (Irga).
Com informações da Assessoria de Imprensa