Pelotas: Congresso debate desafios da Agronomia no combate à fome

Painel realizado durante evento realizado em Pelotas discutiu o papel dos profissionais da área no enfrentamento às desigualdades e desenvolvimento sustentável. (Foto: Miqueias Fagundes)

Os desafios da Agronomia no combate à fome e à redução das desigualdades estiveram no centro dos debates desta quinta-feira (14) durante a programação do 33º Congresso Brasileiro de Agronomia (CBA 2023), em Pelotas (RS). O presidente da Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil (Confaeab), Kleber Souza dos Santos, mediou o painel em que foram avaliadas as políticas de apoio ao desenvolvimento na agricultura e o papel da assistência agronômica e extensão rural a partir das Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

“O engenheiro agrônomo é um profissional do desenvolvimento urbano e rural com papel fundamental nesse processo para que as nossas cidades sejam sustentáveis”, destacou. O engenheiro agrônomo Alencar Paulo Rugeri abordou a importância da extensão rural na conexão entre campo e cidade. A educação foi apontada como fator base para isso, conforme Gelson Pelegrini, professor dos cursos de Ciências Agrárias e coordenador de Agronomia da Universidade Federal Integrada (URI), de Frederico Westphalen.

Pelegrini citou a pedagogia da alternância como uma das maneiras de alcançar essa integração. O método desenvolvido na França busca a interação entre o estudante que vive no campo e a realidade do cotidiano, promovendo troca de conhecimentos entre o ambiente de vida e trabalho e o escolar. “A pedagogia da alternância pode trazer importantes diretrizes para o Ensino Superior”, disse. Segundo o engenheiro, iniciativas como o Programa Regional de Sucessão Rural e o Projeto Profissional Integrador norteiam o caminho para contemplar os ODS.

Para a engenheira Waleska del Pietro, o futuro está também no conceito de cidades sustentáveis. Durante sua intervenção, a profissional falou sobre o caminho dos projetos de políticas públicas com foco em desenvolvimento sustentável. “A agronomia é protagonista em todos os ODS”, resumiu.

Sustentabilidade e inclusão

Atenta ao tema da sustentabilidade, a estudante Rebeca Freitas de Castro Queiroz, de 26 anos, atravessou sete estados brasileiros, percorrendo 3,7 mil quilômetros, para participar do 33º Congresso Brasileiro de Agronomia (CBA 2023), em Pelotas, no extremo sul do Rio Grande do Sul. Aluna da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), a formanda em Engenharia Agronômica está entre os 250 acadêmicos de cursos de graduação e pós-graduação que participam do evento.

Com muita vontade de participar do maior evento de Agronomia do País, ela decidiu submeter um trabalho para apresentação mesmo sem ter todos recursos para a viagem. A motivação veio do desejo de compartilhar as descobertas do projeto que desenvolve junto a agricultores familiares de assentamentos da região do Carajás, no Pará. O trabalho “Implantação de biodigestores em propriedade rural, um caminho para a sustentabilidade” foi apresentado na quarta-feira (13) e mostrou como os dejetos de bovinos podem ser transformados em fonte de energia e fertilizante. O biodigestor é uma tecnologia sustentável e serve de equipamento para fazer a digestão anaeróbia e aproveitar os resíduos animais para produção de energia e adubo orgânico.

A região sudeste do Pará possui mais de 500 assentamentos e em um deles, o assentamento Veneza, no município de São Domingos do Araguaia, foi desenvolvido o projeto piloto da Unifesspa. Rebeca conta que primeiramente foi feita uma vivência de campo para identificar as principais necessidades dos agricultores. “Após essa imersão, percebemos a oportunidade e criamos o BioFertiGás.” O projeto foi executado na propriedade de Nádia Gomes, moradora no local há 15 anos. As cinco vacas da família foram suficientes para comprovar o sucesso da iniciativa. O sistema foi adaptado ao fogão da casa e o biogás gerado tornou-se suficiente para substituir o gás de cozinha e alimentar as necessidades da casa.

Estudante do Pará apresenta projeto sobre biodigestores. (Foto: Miqueias Fagundes)

Além da energia limpa, o biofertilizante é usado como adubo orgânico. No assentamento Sol Nascente, a experiência também trouxe bons resultados aos agricultores, se convertendo em benefícios tanto socioeconômicos quanto ambientais. O foco se deu nas famílias instaladas em 28 hectares, com 20 animais. “Verificamos que o uso do biofertilizandte reduziu os custos de consumo para o cultivo da capineira, cultivo de cacau”, relata a estudante.

Com esta experiência e contribuição a ser disseminada, Rebeca faz parte dos 60 contemplados pela organização do CBA 2023 com hospedagem e alimentação em Pelotas. Os melhores trabalhos serão premiados. Apesar da chuva e do frio, clima bem diferente do habitual em seu estado, Rebeca diz estar muito feliz em participar do Congresso, além de encantada com a cultura do Sul. “Quando saí do Ensino Médio queria fazer Direito e meu pai insistiu com a Agronomia. Dizia que era uma profissão muito importante para o País. Hoje não tenho a menor dúvida que ele tinha razão”, finaliza.

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