Em 25 de novembro de 1991, depois de 23 dias a bordo do navio Borg, de bandeira norueguesa, os músicos pelotenses Tuniko Goulart e Negrinho Martins atracavam em um terminal portuário na Bélgica para dar início a uma nova experiência profissional. Nesta quarta (25), exatos 30 anos e seis meses depois, os dois voltam a se encontrar: desta vez em Pelotas, no Garagem Moto Pub, onde a Clube de Jazz de Pelotas recebe Tuniko para o show marcado para as 20h30, com ingressos no local a R$ 15.
O reencontro não será apenas com o contrabaixista da Clube de Jazz, banda que volta à cena menos de um mês após o show com convidados no International Jazz Day Pelotas. Será também com os músicos e o público da cidade onde Tuniko começou a carreira profissional aos dez anos de idade – há 44 anos. Tocou em boates “classe U”, em bailes pelo San Remo, Água da Fonte e Documento, passou pelo Conservatório de Música, onde foi aluno do professor Luiz Hadê, e teve, juntamente com o irmão Giovani, a Sala de Estudos Musicais Milton Nascimento. As raízes estão bem fincadas, ele garante, apesar das últimas três décadas em Portimão, Algarve, Sul de Portugal. “Sou daqui, minha cena é aqui, a única diferença é que tem um oceano no meio”, disse.
A estada na cidade vai até o dia 30. Já em 2 de junho, Tuniko estará na França, onde sai em turnê com o Aquarela Trio – ele (violão sete cordas), o paulista Edu Miranda (bandolim) e o maestro e professor do Conservatório Nacional da França, o “oboman” Jean Luc Fillon. “É um trabalho de cor latina, tem choro, jazz, fazemos temas de Hermeto [Pascoal] e Gismonti [Egberto]”.
Paralelamente ao Aquarela Trio, o músico dá conta de diversos projetos como instrumentista, compositor, arranjador e diretor musical. Com um disco lançado, Karoço, e participação em centenas de outros, ele prepara mais três álbuns. Um deles se encontra em estado avançado de gestação. “É um disco orgânico, eu e violão, gravo enquanto toco, no meu estúdio, em casa, de pijama e chinelos de dedo, vai trastejar, certas músicas não estudei muito bem, mas não importa, é assim que eu quero.”
Já para o repertório da noite de quarta, composições autorais de Tuniko e, dentre outras, versões para Bye Bye Brasil (Chico Buarque e Roberto Menescal) e Incompatibilidade de Gênios (João Bosco e Aldir Blanc). Além de Tuniko (guitarra), a Clube de Jazz terá Renato Popó (bateria), Ebinho (teclados), Hamilton Pereira (guitarra), Negrinho Martins (contrabaixo acústico) e Gustavo Barbosa (baixo elétrico).
Com Madonna na Eurovision
Profissional com carreira consolidada na área do jazz e da música instrumental, Tuniko Goulart já bebeu do pop numa fonte poderosa: Madonna. Sim, a diva do showbizz, que já vendeu mais que Beatles, Elvis e Michael Jackson, convidou o guitarrista para tocar com ela em Tel Aviv, Israel, pelo Festival Eurovision 2019, o maior e mais tradicional evento de música do continente europeu.
Tudo começou no ano anterior, durante show da cantora brasileira Ive Grace no Teatro do Bairro, em Lisboa, no qual o músico pelotense fez os violões e assinou a direção musical. Juto a ele e à cantora, o baterista Toni Marasca e o percussionista uruguaio Andrés Tarapia Pancho, além da participação especial do cantor caboverdiano Dino Santiago – “este quando canta o mundo muda de cor”, diz Tuniko.
Após o show surge uma senhora venezuelana, que Tuniko Goulart até hoje conhece apenas por “dona Vitória”. Apresentando-se como madrinha de um dos filhos adotados por Madonna, no caso David, natural de Guiné-Bissau – mora em Lisboa, onde joga futebol nas categorias de base do Benfica –, se diz emocionada com o concerto, garante que Madonna adoraria conhecê-los e se oferece para marcar um jantar entre os músicos e a cantora norte-americana, o que só ocorre, este com a presença de Tuniko, duas semanas depois. Havia 70 pessoas (era um jantar de Madonna). Tocou Overjoyed (Stevie Wonder) e Dia da lua, de sua autoria, que estará no repertório da noite desta quarta com a Clube de Jazz. Foi o suficiente para emplacar como guitarrista da banda de Madonna na Eurovision 2019.
“Não ganhei milhões”, ri o músico pelotense. Sobre a cantora norte-americana, Tuniko Goulart a divide em dois ambientes: dentro e fora do palco. “Fora do palco é uma pessoa lindíssima”, diz o músico. “Na tour é trabalho e ponto, o que ela decide é o que vai ser feito e não se arreda um milímetro, é o jeito dela trabalhar”.
Serviço
O que: Show com Clube de Jazz de Pelotas e o guitarrista Tuniko Goulart
Quando: quarta-feira (25), a partir das 20h30
Onde: Garagem Moto Pub (rua Rafael Pinto Bandeira, nº 1.790)
Quanto: R$ 15, no local