A presença e o fortalecimento da cultura pomerana em Canguçu

Ao lado de uma tia, criou o canal “O Fota e a Muta“, no Youtube, no qual aborda a rotina da cultura pomerana. (Foto: Arquivo Pessoal)

A força da mulher pomerana é uma das marcas registradas de Canguçu. O município, que reúne um grande número de imigrantes de origem alemã e pomerana, possui diversos moradores bilíngues, fluentes em português e na língua pomerana, com um sotaque marcante.

“As comunidades luteranas, em sua maioria pomeranos, possuem atualmente mais de 5,5 mil famílias. E, se multiplicarmos por quatro, teremos hoje, no mínimo, 27 mil pessoas, o que representa cerca de 50% da população do município”, indica um levantamento do pesquisador da cultura pomerana, Nilso Pinz.

Uma das que fazem parte deste grupo é Lizane Ledebuhr, que desde muito jovem, quando morava no interior, tinha como objetivo se tornar professora. Por isso, foi estudar na cidade com a ajuda de uma professora, com a qual trabalhava cuidando dos filhos. Naquela época, ir para a zona urbana era a única alternativa para que pudesse cursar uma faculdade, mas seus pais, principalmente sua avó, não estavam satisfeitos com a ideia inicialmente. Afirmavam que tinham medo de acontecer algo com ela ou até mesmo que ela mudasse os planos e não continuasse os estudos.

Com o passar do tempo, Lizane se tornou uma das professoras mais reconhecidas em sua área, mãe de duas meninas, esposa, filha e neta, atuando como diretora geral da Secretaria de Educação de Canguçu e valorizando a cultura pomerana. Além disso, também defende as particularidades existentes na cultura e procura dar mais evidência a mulher pomerana.

Atualmente, Lizane Ledebuhr é diretora geral da Secretaria Municipal de Educação. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu tinha muita dificuldade em me comunicar, principalmente pela pronúncia e sotaque, era sempre quem segurava o cartaz”, lembra Lizane, que complementa: “a mulher pomerana geralmente é tímida porque nossos antepassados sofreram muito ao chegar no Brasil”.

Além de professora, Lizane também atuou como agricultora, sentindo muito orgulho de sua profissão e de suas origens. Nesse sentido, ao lado de uma tia, criou um canal no Youtube denominado “O Fota e a Muta”, onde conta sobre as vivências do povo pomerano, as peculiaridades da cultura, o dia a dia de trabalho na agricultura e suas histórias, tudo de forma bem-humorada. Quase todos os roteiros são interpretados e falados na língua pomerana e apenas algumas produções são em português, mas com a presença do sotaque pomerano.

Uma das maiores dificuldades que enfrentou foi o fato de ter um sotaque acentuado. Por isso, lembra que sofreu preconceito linguístico dentro da escola, por falar em pomerano. “Quando cheguei na cidade, sofri bullying, mas matava no peito, não somente pela fala, mas também por usar óculos. Com o tempo, fui me policiando para não me deixar abater por pouca coisa”, conta.

Papel da mulher pomerana, desafios e costumes preservados
Até o momento em que mudou-se para a cidade, Lizane sempre morou e conviveu com seus familiares da zona rural, na localidade do Canguçu Velho, 1° Distrito. A chegada em um novo ambiente foi desafiadora no início, mas com o tempo, Lizane conta que se adaptou, conseguiu concluir a faculdade de pedagogia e realizar o sonho de ser professora desde os 19 anos, quando prestou concurso e começou a atuar dentro do município. Com o tempo, venceu a timidez e foi chamada para atuar na Secretaria.

Em sua carreira profissional, Lizane aponta que sempre priorizou a valorização de sua cultura, se especializando, participando e criando novos projetos, com atuação baseada nos pilares da cultura, do papel da mulher pomerana e da agricultura familiar. “Canguçu tem 35 escolas, 20 delas estão localizadas na zona rural, cada uma com as suas peculiaridades e, por isso, precisamos ter um olhar diferente para cada uma delas”.

Os costumes mantidos até os dias atuais tanto por Lizane e sua família quanto pela comunidade canguçuense, em geral priorizam pela valorização de um povo que resolveu buscar melhores alternativas de vida, e foi acolhido no Brasil.

Para os descendentes pomeranos de Canguçu, ações como a integração da língua no currículo escolar e a criação do Festival Estudantil da Cultura Alemã e Pomerana (Festicap), iniciado em 2002, tendem a incentivar o amor pela cultura, a partir de atividades recreativas e pedagógicas como apresentações de causos, poesias, culinária e grupos de danças pomeranas.

Mas para além do ambiente escolar, os canguçuenses também realizam eventos dos mais variados tipos. “O povo pomerano é tímido, mas é alegre e festeiro”, define. Ela ainda reforça que o olhar da mulher e a figura feminina pomerana tem um papel muito importante dentro das atividades promovidas pelas comunidades e famílias descendentes.

“Todo mundo se envolve no preparo, mas quem está à frente é a mulher pomerana. Para uma mulher pomerana estar bem, a família precisa estar bem e ela não se sente bem se não colocar um banquete na mesa, para receber os familiares ou as visitas”, define.

Disseminação da cultura
Lizane recorda que apesar dos desafios impostos pela vida, conseguiu realizar o sonho de ser professora e trabalhar com o que mais ama: a educação. Agora, buscando valorizar a sua cultura procura construir espaços de convivências tanto de estudantes quanto de todos os pomeranos, principalmente evidenciado a figura feminina. “Nós temos que valorizar nossas mulheres pomeranas, elas merecem”.

Nesse sentido, afirma que sonha em ver as filhas serem pessoas de caráter e contribuindo, assim como ela, para a expansão da cultura, resgatando costumes dos antepassados e contribuindo para que existam mais festividades e eventos pomeranos no município.

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