
“A hora da previsão do tempo virou um momento de terror, porque se marca chuva não durmo mais e, também não consigo me desligar disso, porque preciso estar atenta para saber se vai ou não chover”, conta a dona-de-casa, Camila Simões, 37 anos, moradora do bairro Promorar, em Arroio Grande. Desde a inundação de setembro de 2023, quando o filho mais velho perdeu tudo, Camila entrou em um estado de temor constante, a preocupação com o caçula e de perder o que tem em casa a faz manter todos os móveis sobre tijolos à espera da próxima enchente.
Várias histórias semelhantes a de Camila foram contadas na noite de quinta-feira (17) na Câmara de Vereadores de Arroio Grande, durante uma audiência pública para discutir ações emergenciais para reduzir o assoreamento do arroio Grande e evitar uma nova inundação.
Com o prefeito Ivan Guevara (Progressistas) em férias e o vice-prefeito José Cláudio Silva (Progressistas) em outra agenda, a Prefeitura foi representada pelos secretários de Obras, Adilson Andrade e de Meio Ambiente, Lucian Rodrigues. Pela Câmara participaram os vereadores Plínio Neto (PDT), Antônio Campelo, o Guigo (PDT), Airton Costa (PDT), Joaquim Vandré (PP), Iderli Garcia (PP), Lizandro Araújo (PSDB) e João Cezar Larrosa (PT).
Durante mais de duas horas, os moradores apresentaram relatos do drama vivido e cobraram respostas. “De setembro para cá, quando o arroio inundou o bairro, os bueiros começaram a ficar obstruídos com aquela areia toda e não vemos manutenção ou limpeza e isso nos preocupa muito”, explica a professora Franciele Noda, 36 anos, moradora do Promorar há 34 anos.
Quando a chuva vira pesadelo
Segurando um painel com fotos da destruição causada pela enchente de setembro – que a obrigou a sair de casa com as netas de três e sete anos de idade na pá de uma retroescavadeira – a dona-de-casa Mariluce Martins, 50 anos, traduziu em palavras e lágrimas o drama da comunidade. “Desde setembro, começou a tortura. É uma nuvenzinha no céu e já dá medo de que aconteça tudo de novo. E com qualquer chuva a rua enche d’água. Há poucos dias tivemos alerta e, de novo às 6h da manhã corremos para tirar as crianças de casa, o bairro parecia um campo de batalha, um alvoroço total. Como viver assim? Até quando? Até que aconteça uma tragédia”.
Respostas e posicionamentos
Entre os vereadores de oposição o tom foi duro e de cobranças à administração. “A Prefeitura deveria estar correndo atrás de uma solução. Falta de verba não é justificativa para não fazer o que deveria ter sido feito há anos”, disse Larrosa. O presidente da Câmara, Plínio Neto indicou a possibilidade do Legislativo direcionar a devolução do duodécimo para as intervenções no Promorar. “Todos os anos se devolve recursos para a Prefeitura e oferecemos para o prefeito a antecipação desse repasse para caso seja necessária alguma obra para evitar enchentes, temos ainda as emendas impositivas, basta o Executivo apresentar um projeto concreto que iremos atrás das verbas para essas obras”, afirmou.
Os secretários municipais argumentaram que a situação do Promorar não pode ser resolvida a curto prazo, mas assumiram que a Prefeitura deve contratar um estudo técnico para apontar as intervenções necessárias para solucionar os problemas definitivamente.
A comunidade, no entanto, deve manter a mobilização. “Vamos manter a pressão por resultados e se não acontecer nada iremos partir para mobilizações de rua”, adiantou a dona-de-casa Graciele Fernandes, 30.