A diversidade étnico-racial é uma característica marcante da formação local.
Essa diversidade incidiu diretamente na formação desse lugar às margens do arroio Grande e perfaz características de uma identidade plural e dinâmica dos arroio-grandenses. Os traços culturais e históricos remetem especialmente a três povos: africanos, açorianos e indígenas. No Carnaval desse ano, eles foram representados na passarela do samba.
De acordo com o museólogo Heron Moreira, que atua junto ao Museu Municipal Visconde de Mauá, a comemoração do sesquicentenário da emancipação política é um momento propício para refletirmos sobre a história de Arroio Grande na perspectiva das relações étinico-raciais, que culminam numa identidade permeada por diversas culturalidades e visões de mundo, que misturadas, contextualizam e são suporte para melhor compreendermos nosso passado e refletirmos o presente.
“A intenção do Museu Visconde de Mauá, situado no prédio que abrigou a primeira Câmara de Vereadores, é comunicar a comunidade uma história horizontalizada e que inclua, além dos portugueses, os povos originários e os africanos, que não apenas contribuíram, mas que são formadores de nossa cultura e atuaram na produção do espaço do município de Arroio Grande”, afirma Moreira.
No carnaval de Arroio Grande a representatividade dos povos originários foi retratada nas fantasias da Corte Municipal. Os figurinos do Rei Momo e da Rainha do Carnaval remeteram aos africanos, que têm influência na cultura reconstruída em terras gaúchas.
Esse povo foi submetido à escravidão através da sua mão de obra, mas com resiliência construíram novas formas de expressões culturais na força do embate. Eram colocados para operar atividades domésticas e na pecuária, base econômica da região, em locais como estâncias, charqueadas e olarias, sendo responsáveis pela construção de grande parte dos casarões históricos da cidade. Em 1858, Arroio Grande tinha cerca de 3.929 habitantes e 1.833 deles eram negros. A comunidade negra deu sentido popular ao Carnaval e é a gênese da folia no município.
Outro grupo, representado na fantasia da Rainha da Liga dos Blocos de Arroio Grande (LIBAG), são os açorianos. Arroio Grande tem na figura do sesmeiro açoriano Manuel Jerônimo, avô do Visconde de Mauá, filho ilustre de Arroio Grande, um dos principais nomes que fazem parte do processo inicial da cidade. Por aqui o povo Açoriano colaborou com a agricultura, culinária, dança e música tradicionalista.
os açorianos, que colaboraram em diversas áreas do município. (Foto: Fabrício Cruz)
As festas religiosas (Festa Junina, Festa do Divino, Festa de Nossa Senhora dos Navegantes – Vila) procissões, novenas e presépios ajudaram a formar a tradição gaúcha. A arquitetura também está presente nas primeiras construções.
A representação dos indígenas esteve presente na fantasia da Rainha da Liga das Escolas de Samba de Arroio Grande (LISAG). Em toda a várzea da Lagoa Mirim são encontradas elevações de terras, os cerritos, construídos pelas populações indígenas.
De acordo com pesquisas realizadas na Bacia da Lagoa Mirim, alguns apresentam datações de até 3,5 mil anos. Em pesquisa realizada pelo historiador Cláudio Pereira, foram encontrados artefatos que estão em exposição no Museu Visconde de Mauá que são característicos das Tradições Umbu, Vieira e Tupi-guarani.
No período da colonização, viviam no território do município os Minuanos/Guenoas, que seriam os descendentes dos povos dos cerritos. Eles Influenciaram diretamente a cultura gaúcha e seus traços estão presentes no cotidiano, como no chimarrão e no churrasco.
Com colaboração de Heron Moreira
